A BUSCA
Opinião
“Na dúvida, desista.” É com essa frase que o adolescente Pedro (Brás Antunes) resolve desaparecer e enlouquecer seus pais, no auge da separação do casal e dos caos armado da convivência familiar que se desfaz na frente do espectador. Com a afirmação estampada na sua camiseta, Pedro compra um cavalo e não volta pra casa como combinado. Theo (Wagner Moura) e Branca (Mariana Lima), seus pais, passam o filme na procura desenfreada pelo filho e pelo tempo perdido em A Busca, que estreia dia 15 de março.
“O que sempre achei bonito no roteiro é o fato de o pai conhecer o filho pela sua ausência”, analise Wagner Moura durante entrevista coletiva. Wagner é um pai controlador, que precisa ter tudo e todos sob seu comando e no momento da crise conjugal também perde o controle do filho. “Pedro não desiste de nada”, afirma o jovem ator estreiante Brás Antunes. “Apesar de tudo, ele vai atrás do que quer naquele momento”. E é justamente isso que vai fazer com que Theo se conheça, mude sua percepção do mundo e das relações.
A viagem que Pedro empreende é um pouco estapafúrdia, já que desaparece montado num cavalo preto e é por causa disse que Theo consegue seguir seu rastro. Neste ponto o roteiro se permite licenças poéticas, que segundo a atriz Mariana Lima, não devem ser interpretadas de forma continuísta. “Estamos fazendo cinema e existe uma coisa que se chama liberdade de criação”, diz ela. De fato, se formos analisar friamente os quadros e personagens que aparecem ao longo da busca de Theo pelo filho, há cenas em que a amarração fica a desejar, inclusive o reencontro entre Theo e seu pai (Lima Duarte).
Mas A Busca vai além da história linear e com causa e consequência comprovada. O filme fala das relações familiares, da dificuldade de acertar os ponteiros e expectativas. Tem elementos inverossíveis sim, mas o filme não é um documentário. “Fizemos o filme a partir do que interessava”, arremata a roteirirsta Elena Soarez. “É muito mais sobre a travessia emocional do que sobre o fato do sumiço em si.”
De fato fala da perda de si próprio e dos pequenos grandes momentos da vida. Tem dramaticidade na figura de Mariana e Wagner sim, que remete à realidade de qualquer um que seja casado e tenha filhos adolescentes. Cada um que sinta o filme como quiser, ou conseguir, mas Wagner Moura segura a onda com seu personagem e trata de um assunto que me é especialmente caro. E convenhamos, tratar dos dramas familiares de uma forma muito didática, previsível, organizada seria no mínimo um déjà vu da vida real. Viva a liberdade poética!
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