ENTRE NÓS
Opinião
Amigos fora e dentro da telona. Quando se reuniram para a entrevista coletiva do filme Entre Nós, Carolina Dickeman, Caio Blat, Maria Ribeiro, Paulo Vilhena, Martha Nowill e Júlio Andrade deixaram bem claro que o filme trazia também um pouco do que era a relação deles. Amigos desde a adolescência, cresceram juntos fazendo cinema e televisão e conseguem, talvez graças também a isso, mostrar intimidade na tela e tudo de negativo e positivo que vem com ela.
Aliás, passagem do tempo foi o mote do filme codirigido por pai e filho. Pedro e Paulo Morelli projetam ali, na vivência do grupo de amigos que ainda não está preso a compromissos, que ainda curte o auge do desprendimento da juventude, a sua própria história de vida. Assim como outros filmes já mostraram – e invariavelmente me emocionam, como o canadense As Invasões Bárbaras e o francês Até a Eternidade – ter amigos é algo difícil. Cultivá-los no decorrer dos anos, quando as diferenças e disputas ficam mais evidentes, é ainda mais raro.
Entre Nós conta a história de um grupo de amigos que tem lá seus 25 anos. Passam um fim de semana na casa de um deles em São Francisco Xavier. Conversam, bebem, fumam maconha, namoram, divertem-se e fazem uma curiosa brincadeira: cada um escreve num papel como imagina sua vida 10 anos mais tarde. Colocam os papéis numa caixa e enterram, com a promessa de revelar os desejos pessoais depois de uma década. Só que algo terrível acontece e tudo muda profundamente.
O que mais me chama atenção é a sensibilidade da direção dos atores. Sim, porque dá pra notar a intensidade da transformação que cada um deles sofre com os acontecimentos. Os olhares são marcantes, muitas vezes o silêncio fala mais alto. Até pela indefinição que marca suas vidas. É isso, é um filme de indefinições. São entrelaçados para sempre pelo passado, mas não sabem como será o futuro. Foi quando perguntei aos atores se conseguiam imaginar o que a vida lhes reservaria aos personagens na década seguinte. Inspirados no ótimo filme francês Albergue Espanhol e sua sequência Bonecas Russas (também sobre encontro de um grupo de amigos) disseram que pensam, sim, em continuar “acompanhando” a vida de Lúcia e Felipe, Drica e Cazé, Silvana e Gus. Façam suas apostas, porque os diretores se animaram com o projeto de continuação. Eu tenho meu palpite, mas a única coisa que é certa é que, depois daquele segundo fim de semana, eles nunca mais serão os mesmos.
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