GETÚLIO

Cartaz do filme GETÚLIO

Opinião

Para quem não conhece muito bem o período do segundo mandato de Vargas no comando do Brasil, pode ficar tranquilo. O filme Getúlio foi pensado também para esse público: além de ter uma produção cuidadosa, uma fotografia que consegue transmitir a tensão daqueles tempos, tem um discurso didático, explicativo, sem ser professoral. Situa o espectador no tempo e no espaço e consegue dar uma dimensão interessante do drama que levou o presidente ao suicídio em 24 de agosto de 1954.

Apesar da longa presença de Vargas na história brasileira, primeiro como ditador e depois como presidente eleito, o diretor João Jardim, também de Lixo Extraordinário e Amor?, faz um recorte dos seus 19 últimos dias de vida. Com a crise deflagrada pelo atentado sofrido por Carlos Lacerda, seu feroz opositor, Vargas é culpado pela tentativa de assassinato e fica politicamente isolado. Deste momento até a sua morte, são dias de extrema tensão, conspirações e traições, que o fazem preferir a morte à renúncia. Jardim não faz de Vargas uma vítima da crise, apenas faz uma leitura do que o presidente plantou e tinha a disposição para colher naquele momento.

É tudo bem parecido com o Brasil de hoje. Aliás, desabafos à parte, é como se estivéssemos no mesmo lugar. O discurso de que “ninguém sabe de nada” está presente o tempo todo, mesmo quando o jogo de interesses particulares é claro e bastante evidente. Tony Ramos, como Vargas, e Drica Moraes, como sua filha e braço direito, Alzira, acertam no tom do drama humano e da falência pública, bem compostos pela penumbra e beleza irônicas do Palácio do Catete. Já faz 60 anos que isso aconteceu e é como se nada tivesse mudado no país. A diferença é que hoje ninguém quer largar o osso.

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