LIBERTEM ANGELA DAVIS – Free Angela and All Political Prisoners
Opinião
Por Eduardo Lucena
No meio de tantas estreias nos cinemas toda semana, é difícil ter espaço para documentários que, quando conseguem uma brecha na programação, entram e saem de cartaz em poucas semanas. Eventuais lançamentos do gênero em DVD acabam sendo uma forma de conhecer e apreciar trabalhos importantes, e de relevância histórica, como Libertem Angela Davis.
Escrito e dirigido por Shola Lynch, o filme reconstitui parte da trajetória da ativista Angela Davis em sua luta pelos direitos civis dos negros, nos anos 1960 e 70. Afro-americana nascida no Alabama, Angela estudou filosofia em Frankfurt, na Alemanha, e retornou aos EUA em 1967. Dois anos depois, sua admissão como professora de filosofia na renomada UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles) deflagra uma crise na instituição, transformando-a em alvo do FBI e até de Ronald Reagan, então governador da Califórnia e ferrenho opositor do comunismo.
Demitida da universidade, em razão de seu envolvimento com o Partido Comunista dos EUA e com o grupo radical Panteras Negras, Angela ainda viria a ser, como o espectador verá mais tarde, incluída na lista dos 10 fugitivos mais procurados do FBI, além de ser chamada de “perigosa terrorista” pelo presidente Richard Nixon.
Hoje com 71 anos, Angela é quem narra o documentário, composto por imagens de arquivo, depoimentos dos envolvidos na época e encenações com atores. Se na primeira parte acompanhamos a imersão dela nos movimentos civis, na segunda metade o filme investiga a sua prisão e julgamento, em 1970. O ataque frustrado de um jovem ligado aos Panteras Negras termina com a morte de um juiz, implicando Angela, já que as armas usadas na tragédia estavam registradas em seu nome.
Foragida da justiça, ela vai a julgamento, acusada de conspiração, sequestro e assassinato, passíveis de pena de morte. Começa então uma longa batalha judicial à la Davi versus Golias, na qual Angela representa o indivíduo em luta contra as injustiças do Estado. O resultado do julgamento (e suas consequências), o espectador vai saber apenas no final.
O documentário peca apenas pelo tom “chapa-branca” de sua denúncia, não dando voz a representantes das autoridades americanas, e também por não questionar o radicalismo dos Panteras Negras. Contudo, os depoimentos emocionados da biografada e as poderosas imagens de arquivo – como uma gravação de Nixon ao lado de J. Edgar Hoover anunciando a prisão de Angela, ou fotos de negros sendo espancados – causam indignação e falam por si só. Reverberam até hoje, quando vemos sucessivos (e flagrantes) casos de racismo ocorrendo não só nos EUA, mas em todo o mundo. Ao menos, Angela, diferentemente de Malcolm X e Martin Luther King (lembrado recentemente no filme Selma), sobreviveu para contar sua história.
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