O ÚLTIMO CINE DRIVE-IN

Opinião
A história em si já é muito boa: numa época em que poucos cinemas de rua (que eu adoro!) sobrevivem aos cinemas de shoppings e em que os filmes que fogem do padrão blockbuster tem pouca presença no circuito comercial, pensar que ainda tem gente que consegue manter um drive-in é inacreditável. Uma vez já perguntei a um grupo de amigos quem é que já tinha ido a um cinema de rua, na região da Paulista, por exemplo. A maioria confessou que nunca tinha ido – dá preguiça, não tem onde estacionar, é longe, não é seguro. Fiquei chocada. O cinema de rua dá um brilho especial ao filme e ao programa – talvez seja coisa de cinéfilo…
Pensar que seria possível ir a um drive-in, assistir ao filme dentro do carro, em um estacionamento, em tempos de tanta violência e medo, é surreal. Diferente de quando há projeções ao ar livre em parques, por exemplo. Dentro do carro soa muito mais perigoso. Pensar, portanto, que essa modalidade tem um sobrevivente em Brasília, que ainda funciona, é sensacional. Foi esse pano de fundo que Iberê Carvalho resolveu usar para contar uma história familiar de mágoas, reconciliação, amizade e amor. E consegue ser singelo, intenso e genuíno sem ser piegas.
O Último Cine Drive-In tem tudo isso, mas tem também uma pegada de desafio. Marlombrando (Breno Nina) está desesperado: precisa acompanhar sua mãe em exames importantes no hospital e pede ajuda ao pai (Othon Bastos), com quem não se relaciona há anos. Com o cinema como cenário – e presente na alma de todos eles – permeado por cartazes de filmes como O Poderoso Chefão e Invasões Bárbaras, o drive-in é um campo fadado ao fracasso por causa da público minguado, da infraestrutura caída e da falta de investimentos. Mas é também o único ambiente capaz de reconciliar e abrir algum caminho para o futuro.
Não tem nada de piegas – muito pelo contrário. Os personagens formam um time harmonioso, o enredo é supercriativo e o olhar do diretor favorece o amor, acima de tudo. Vivo dizendo aqui que adoro cinema nacional. Tem muita bobagem, é verdade. Mas tem muita coisa boa. Este, premiado em Gramado e apresentado em festivais do mundo todo, é um deles.
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