Opinião

Dizem que os caminhantes, enquanto caminham, têm a chance de se deparar com suas questões mais íntimas, seus mistérios mais profundos e com tudo aquilo que não sabem que existe dentro deles. É quando finalmente o andarilho se pergunta o que vai levar na mochila, numa metáfora da vida. Porque levar mais do que o essencial, é peso desnecessário. Aí a transformação. O que o ornitólogo Fernando, que observava os pássaros tranquilamente sem pensar em transformação nenhuma, não imaginava era que iria cair de gaiato no Caminho de Santiago e se deparar com uma mudança de vida inevitável.

O Ornitólogo é a jornada desse cientista que se distrai no caiaque, cai no rio e é encontrado por duas moças que estão percorrendo o caminho português que leva até Santiago de Compostela, na Espanha. Fernando não tem escapatória a não ser se desligar do mundo que deixou pra trás e encarar seu sofrimento e suas aflições. Sai transformado, não tem jeito. E parece que todos saem. O bacana do filme do português João Pedro Rodrigues, além da linda fotografia, é a construção da narrativa. Sutilezas mil, um desfecho surpreendente e um entendimento muito delicado e profundo do que é fazer uma caminhada dessas, convivendo com você mesmo. É um caminho sem volta, no sentido de que você nunca mais será o mesmo. Antônio que o diga.