QUEEN & SLIM
Opinião
A cena que deflagra toda a trama é um déjà vu bem real: um casal negro, que se conhece pelo Tinder e está no primeiro encontro, é abordado por um policial branco, a tensão no ar já é instaurada e não há nada que faça essa história terminar de maneira diferente.
A partir do desfecho desta batida policia, QUEEN & SLIM se torna um road movie. Queen é uma advogada, careca de saber que defender um negro perante o sistema jurídico branco é uma tarefa inglória; defende a tese de que é preciso fugir, porque não haverá justiça justa neste mundo contaminado pelo racismo; Slim sabe que não fez nada de errado, que agiu em legítima defesa e que não tem nada a temer; na sua ingenuidade, acredita que se entregar é o melhor remédio, porque tem muito a perder deixando sua família para trás.
Mas quem manda é Queen — não é à toa que tem esse nome — e não lhe resta opção senão partir numa rota de fuga, descobrindo um ao outro e a si mesmos. Tipo Bonnie & Clyde, como lembra um outro personagem do filme. A trilha sonora compõe de forma poética os cenários por onde passam, os diálogos que travam, as danças que os corpos produzem, dando brilho às já marcantes escolhas de luz e enquadramento. Muito hip hop pra contar essa história de amor e luta, com uma força surpreendente.
Dos diálogos preciosos, que vão delineando as reflexões sobre imagem, preconceito, comportamento, representatividade. Um deles é sobre reconhecer-se em si e ser reconhecida pelo outro; sobre ser tão amado que não há medo de mostrar o lado feito de si; sobre não largar a mão do outro, aconteça o que acontecer. Uma reflexão sobre o amor próprio, na revelação de uma relação construída em bases sólidas. Sobre estar com alguém que possa ser o seu legado.
(Netflix)
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