CARVÃO

Cartaz do filme CARVÃO

Opinião

 

 

Seleção da 46ª Mostra SP
Assistido no Festival do Rio

Em CARVÃO, Irene e Jairo são casados, mas pouco afeto se vê. O sustento vem de uma carvoaria, na zona rural de Joanópolis, no interior de São Paulo. Além de trabalhar, cuidar da casa e do filho, Irene (Maeve Jinkings) toma conta do pai, que não sai da cama, não fala, nem ouve. O clima é rude, grosseiro, assim como é a vida desta família, largada à sorte.

Como tudo tem um preço, aceitam uma barganha e um sujeito mal encarado vai morar com eles, mas ninguém pode saber. Ocupa o quarto do garoto, mexe com o dia a dia, perturba aquela ordem das coisas — que, diga-se de passagem, é uma ordem já caótica.

O que a presença deste sujeito faz é potencializar os instintos de sobrevivência dessa gente que protagoniza os absurdos por que passam os brasileiros. O roteiro de Carolina Markowicz, que dirige este primeiro longa, foi premiado com o Troféu Redentor no Festival do Rio e vai num crescente, normatizando as barbaridades, a hipocrisia, as mentiras, a dissimulação dos personagens pra falar de comportamento, religião, corrupção, interesses escusos, poder financeiro. Não é filme pra se levar ao pé da letra, muito embora seja uma representação que tem eco bem real na lida nossa do dia a dia.

CARVÃO ficou entre os seis filmes selecionados pra representar o Brasil na corrida ao Oscar de filme estrangeiro, mas acabou perdendo para um filme que também lida diretamente com questões sociais , mas de uma maneira mais amena, reflexiva. Aqui, os personagens as barbaridades ganham tom de normalidade, de aceitação. Questionamentos não existem na carvoaria de Irene. Há conveniência e conivência. Traz a vida como ela tem sido por aqui.

 

Festival do Rio: Troféu Redentor também para atriz coadjuvante (Aline Marta) e direção de arte (Marines Mencio); Exibido nos festivais de Toronto (TIFF) e San Sebastián (SSIFF).

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