OS FABELMANS – The Fabelmans
Opinião
Ao olharmos bem de perto, vemos o contador de histórias estampado neste que é seu filme mais pessoal, embora não seja autobiográfico. OS FABELMANS emprestam, da palavra alemã “fabel”, a noção da fábula, daqueles que são construtores natos de narrativas, habilidosos ficcionistas pra falar das coisas e sentimentos da realidade. Steven Spielberg constrói sua fábula sobre suas memórias, não exatamente sobre o que lembra da infância e juventude, mas sobre o que mais deixou marcas pra construir quem ele é.
Um contador de histórias genial, que descobre na sua primeira sessão de cinema o fascínio que as fotografias em movimento, projetadas na tela grande, lhe causaram. Boquiaberto, vai alimentar a magia vida afora. Aguça a curiosidade saber que parte realmente é verdadeira da história inventada sobre os Fabelmans, mas isso pouco importa. Quem conta um conto, aumenta um ponto, e o que vale e a inspiração para o que soou verdadeiro em sua vida. Porque os pontos de vista são diferentes e o que Spielberg vai contar é como o cinema mudou sua trajetória, sua maneira de ver o mundo, sua família.
E muda mesmo. Capaz de fazer rir e chorar, é poético, divertido, dramático, delicado. Consegue costurar as nuances da vida, que vão alimentar as histórias mágicas criadas pelo diretor. Bacana pensar na tendência de diretores famosos revisitarem suas vidas. Não me estranha. Uma vida dedicada à sétima arte, pelas lentes de que observa pra narrar, já é um filme por si só. Revisitá-lo com maturidade e distanciamento ajuda a selecionar as memórias, entender a homenagem que se quer prestar, deflagrar o processo de cura interior. Foi assim com Alfonso Cuarón, Pedro Almodóvar, Alejandro G Iñárritu, Kenneth Branagh, Sam Mendes — um exercício de metalinguagem, do cinema que fala do cinema, que se retroalimenta e nos presenteia com homenagens únicas.
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