Opinião

Salomé é uma menina de 8 anos, que nasceu na França e volta, a cada verão, para o vilarejo português onde moram seus familiares. Sua relação mais forte é com a avó materna e é, através desse vínculo amoroso e místico, que vamos acompanhar a personagem.

Não espere de ALMA VIVA, representante de Portugal no Oscar, ação ou reação. É um filme intimista, em que Salomé brilha como protagonista e como observadora da sua própria família — tem tem ares burlescos, oscilando entre o misticismo da avó e os elementos fantásticos que permeiam as histórias orais que circulam pelo vilarejo e ainda divertem e perturbam as almas que vivem — ou morrem — por ali.

A diretora Cristèle Alves Meira filma em Trás-os-Montes, na aldeia onde nasceram sua mãe e avó. Tem bastante da memória afetiva da diretora no filme, além da cultura portuguesa, das tradições religiosas e das questões universais sobre a morte, o luto e a dificuldade das famílias de lidar com isso quando o elo que os conecta se vai.

Assim como a personagem Salomé, Cristèle nasceu na França e é filha de imigrantes. Por isso a vontade de falar dessa família portuguesa que se sustenta nessa ruptura, nessa desconexão entre as pessoas que ficaram e as que migraram para outra realidade. Um filme intimista, pra ser assistido como quem mergulha em vilarejos em que parece que o tempo não passou.