A ÚLTIMA SESSÃO – LAST FILM SHOW
Opinião
O menino curioso, e já um cinéfilo encantado, pergunta ao projecionista como os filmes são feitos. O projecionista responde, sem hesitar, que fazer cinema tem a ver com a habilidade de contar histórias. Ele exemplifica: políticos contam histórias pra ganhar votos; os comerciantes, pra vender seus produtos; os ricos, pra esconder a riqueza. Mas eles têm algo em comum: sabem mentir.
Por mentir, entende-se inventar. A magia da contação de histórias é imaginar uma perspectiva, traduzi-la em imagens e transportá-la pra tela pra mostrar um dos diversos pontos de vista que existem sobre o mesmo tema. A ÚLTIMA SESSÃO é uma homenagem a essa diversidade de olhares que o cinema traz, capaz de nos transportar pra outros mundos. Com um detalhe: o diretor indiano Pan Nalin conta essa história, que tem elementos autobiográficos, e homenageia a cultura indiana, seu potencial narrativo, sua humanidade e cultura.
Tudo gira em torno de Samay, um garoto de 9 anos que vai ao cinema com a família pra ver um filme religioso e se apaixona. Fica obcecado com a ideia de aprender sobre a luz e a projeção de imagens pra contar histórias. Pra isso, fica amigo do projecionista do cinema da cidade e falta na escola pra assistir aos filmes — algo que nos reconecta, claro, com a amizade de Alfredo e Salvatore, de Cinema Paradiso. Acontece que seu pai é contra e num misto de teimosia infantil e encantamento, junto com seus amigos lidera uma busca insana por rolos de filmes, salas de cinema improvisadas, construção de engrenagem pra projeção com sucata. Aliás, a cena da sessão com sonoplastia é pra lá de encantadora e inspiradora.
Pan Nalin constrói uma história de descobertas doces e amargas, algo presente, sempre nos momentos de ritos de passagem. Recheia a trajetória dos personagens dos elementos da cultura, da tradição e da realidade indianas, fazendo um mergulho colorido e visualmente lindo do imaginário possível quando pensamos em cinema. A última sessão é a última mesmo e o destino de todas aquelas películas é condensado com uma poesia sem igual na última cena. Última, mas que, no nosso imaginário, não termina nunca.
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