FLOW

Opinião
A palavra de ordem é deixar fluir. Literalmente também, já que FLOW, o gato que tem medo de água e que dá nome ao filme, precisa se deixar levar para enfrentar uma inundação. Tudo ao seu redor é coberto pelas águas e as referências de uma existência segura, em terra firme, vão de fato por água abaixo.
“Inundação” é o termo usado pelas fontes oficiais de divulgação desta belíssima história, que tem traços originais e delicados, cheios de luz e de emoção, e que vem da Letônia. Mas é uma inundação que mais parece um dilúvio, inclusive pela semelhança com a famosa arca que acolhe os animais diversos naquele momento de perigo. Aliás, a Letônia está em festa com a indicação de FLOW ao Oscar e com todos os prêmios recebidos mundo afora. Merecido. FLOW é sobre resistir, encontrar alternativas na dificuldade, deixá-las fluir da melhor maneira possível, mas principalmente sobre se colocar no lugar do outro e ajudar quem precisa.
Mesmo que ele for diferente de você. Flow é um gato e a ele se juntam num barco um pássaro, uma capivara, um cachorro e um gambá. Sem a preocupação de parecer realista, a animação traz sensibilidade, um silêncio oportuno na ausência de diálogos, o som real dos animais e a sensação de estarmos num ambiente fantástico. Lembra a dinâmica de O Menino, A Toupeira, A Raposa e o Cavalo, de Peter Baynton e Charlie Mackesy, em que os quatro se juntam em um momento de vulnerabilidade e se complementam. Portanto, não dá pra dizer que tem originalidade neste tema, mas isso pouco importa. Tem beleza e delicadeza pra falar de colaboração e resiliência em tempos difíceis — algo escasso. Quanto mais as histórias puderem representar este movimento tão necessário, melhor.
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