BORBOLETAS NEGRAS – Black Butterflies

Cartaz do filme BORBOLETAS NEGRAS – Black Butterflies

Opinião

África do Sul em pleno Apartheid dos anos 1960. Segregação, censura e repressão total aos negros, inclusive no campo cultural, contra aqueles que ousassem trazer à tona o extremo racismo contra toda e qualquer manifestação que pudesse contestar o status quo. A poetisa Ingrid Jonker sente isso dentro de casa, pelo olhar e palavras cortantes de seu pai. Severo e implacável, Abraham Jonker (Rutger Hauer) é o chefe do departamento de censura do Apartheid e contribui – e muito – para a instabilidade emocional e afetiva e o inconformismo que Ingrid carrega durante sua breve vida. Acaba não suportantdo conviver com ela mesma, com o amor intenso e incontrolável que sente pelo escritor Jack Cope e com outros tantos amantes. Ao mesmo tempo. Viver parece demais para ela e isso é mérito da direção da Paula van der Oest e da talentosa atriz Carice van Houten, como Ingrid.

Impossível não associar a imagem da descontrolada e passional Ingrid com outras mulheres magistralmente retratadas no cinema. O olhar desesperado de Camille Claudel (na pele de Isabelle Adjani), o ar ausente de Ida Dalser (Giovanna Mezzogiorno) em Vincere, a desilusão da diva Piaf (Marion Cotillard) são alguns exemplos da loucura que se apodera de mulheres intensas e apaixonadas, que levam o amor e a incompreensão às últimas consequências. Além de uma história realmente comovente, Borboletas Negras traz um elemento do cinema de que gosto muito: nos aproxima de uma realidade distante. Aqui, a África do Sul dos guetos, dos ricos, dos poetas, dos poderosos é retratada lindamente, com uma linda produção. Com uma fotografia impecável, o filme tem uma preocupação estética que transborda para a poesia de Ingrid. Legado que foi resgatado pelo próprio Nelson Mandela, quanto tomou posse em 1994.

 

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