127 HORAS – 127 Hours
Opinião
A grande questão em 127 horas é arranjar uma saída. Da mesma forma que o aventureiro Aron Ralston (vivido pelo apresentador do Oscar deste ano, James Franco – também em Milk – A Voz da Igualdade, Comer, Rezar e Amar e Homem-Aranha 1, 2 e 3) tem que encontrar uma forma de se ver livre de uma pedra no seu caminho, ou melhor, dentro de um cânion, o diretor Danny Boyle (também de Quem Quer Ser um Milionário) tem que achar uma saída para contar essa história de um só personagem e um só fato.
Embora nada tradicional, a saída que Ralston encontra é a única que lhe resta. Só quem passou por uma situação de vida ou morte sabe o que é tomar uma decisão tão extrema. Não é meu caso, felizmente. Mas a coragem de uma atitude do tipo ‘tudo-ou-nada’, contra o instinto natural que temos de auto-preservação, só acontece quando realmente todas as outras alternativas se esgotam. E isso o filme transmite muito bem. Viver fala mais alto.
Da mesma maneira, a saída encontrada pelo diretor de transportar para o local do acidente as lembranças e as reflexões de Ralston, de fragmentar na tela os acontecimentos em diversos enquadramentos, transformando em cinema a sua própria maneira de agir e de pensar, de usar uma trilha sonora estimulante, como se aquilo fosse só uma aventura, tiraram a suposta monotonia que um filme como esse naturalmente traria. Ainda assim, saí com a sensação de que o pobre Ralston, preso naquele cânion, sentiu na pele não só a penúria da privação de água, comida, descanso e tudo mais, mas também da monotonia de um tempo que passa muito devagar e que abre obrigatoriamente as janelas da vida, por onde ele nunca parou para olhar. Para um sujeito agitado e egocêntrico como ele, pura ironia da vida.
Ator e diretor se saíram muito bem, mas não daria o Oscar ou coisa do gênero. Mas a história é real, Aron Ralston viveu para contá-la e, pelo que mostra o filme, não perdeu o bom humor, nem o espírito avetureiro. Só isso já é bem interessante e rende uma boa conversa.
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