45 ANOS – 45 Years
Opinião
O último filme que vi com a inglesa Charlotte Rampling foi Eu, Anna, que é perturbador. Charlotte tem um ar de mistério que dá aos seus personagens uma áurea sempre de dúvida, nostalgia e tristeza. 45 Anos não começa com essa sensação, mas vai ganhando essa angústia à medida que o tempo passa. Portanto, já digo de cara que não é filme que agrada a todos os gostos, muito menos a todos os “estados de espírito”. Ver bem acompanhado pode trazer à tona histórias não contadas entre o casal e, fique aqui dito, pode dar brecha pra lavar a roupa suja!
Aliás, o tempo é o grande protagonista do filme, já que Kate e Geoff vão comemorar 45 anos de casados. Programam uma festa para os amigos de longa data que moram na sua pequena cidade no interior da Inglaterra, combinam os detalhes e dias antes vem à tona uma antiga história que remexe no passado já deixado lá atrás. O curioso é que esse tipo de coisa sempre traz elementos desconhecidos, deixados de lado na ocasião e que acabam surgindo mal explicados.
O mal-estar que se instala é perturbador, capaz de incomodar até quem está assistindo. Charlotte Rampling é mestre nisso e, no decorrer da narrativa, deixa de lado sua face doce e veste sua capa de mulher dura e misteriosa, como também em Melancolia. Aliás, ela é uma mistura de tudo isso e acho que nem ela sabe direito o que sente. Mas o incrível é como o diretor prescinde de palavras para transmitir o incômodo sentido por Geoff diante dos seus sentimentos, por Kate, diante da sua mágoa. Aliás, justiça seja feita, porque Tom Courtenay (também em O Quarteto) está perfeito e preciso no seu olhar e discurso dissimulados. Gosto do filme, principalmente da sua profundidade. Fiquei curiosa pra saber o que viria pela frente.
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