A SEMENTE DO FRUTO SAGRADO – the seed of the sacred fig

Cartaz do filme A SEMENTE DO FRUTO SAGRADO – the seed of the sacred fig

Opinião

Já faz dois anos que a jovem Mahsa Amini foi presa e morta pela polícia da moralidade do Irã pelo simples fato de não usar o hijab corretamente. Vale dizer que o correto para ditadores é sempre arbitrário: os símbolos religiosos e o livro sagrado são interpretados de acordo com os interesses de repressão à mulher, à liberdade de expressão e à democracia.

O fato gerou protestos mundo afora e o que o diretor iraniano Mohammad Rasoulof faz em A SEMENTE DO FRUTO SAGRADO tem um tom documental importantíssimo. É ficção, mas os vídeos reias gravados durante as manifestações, conflitos e prisões registrados nas redes sociais naqueles dias de 2022 são usados para construir a história da família de Iman, um funcionário público de carreira, que acaba de ser promovido ao cargo de juíz de instrução. Iman tem duas filhas jovens e uma esposa fiel e servil. Ser juiz nesse país significa assinar execuções — e o momento do filme é justamente o auge da arbitrariedade e repressão às manifestações que tomaram conta do país após a morte de Mahsa Amini. Os vídeos reais são colocados nas mãos das jovens, o que nos faz reviver o momento que acompanhamos pelas redes e sentir como ele foi visto de dentro de uma típica família iraniana.

A SEMENTE DO FRUTO SAGRADO se refere a uma semente cujas raízes crescem matando as árvores ao redor. Predadora, não coexiste. O conflito é nas ruas, na sociedade, mas representado pelas filhas jovens que não se conformam, enfrentam o pai e a mãe, questionam. A juventude faz a diferença e a reviravolta na narrativa cria um clima de suspense e fuga, talvez como teve que fazer o próprio Mohammad Rasoulof, também diretor de Não Há Mal Algum e Manuscritos não Queimam, quando fugiu do Irã após ser condenado e se refugiou na Europa, um pouco antes de apresentar seu filme em Cannes.

Este acaba sendo o destino de tantos cineastas iranianos. Fazer cinema nesse país é depor contra o sistema. São perseguidos, julgados, presos. Mas não se rendem e continuam contando suas histórias. FIlme indispensável.

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