AMADEUS

Opinião
Rever Amadeus é um presente. Não me lembrava que a história de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-91) era aqui contada pela voz do compositor Antonio Salieri. Ou melhor, pela voz do seu ciúme, da sua profunda e explícita inveja, baseado na lenda criada pelo dramaturgo inglês Peter Shaffer em sua peça, já no século 20. Salieri compunha para a corte austríaca em meados do século 18, mas quem tinha o brilho e a genialidade era o pequeno, audacioso e descontrolado Mozart. Prato cheio para uma história de vingança e destruição.
Maravilhado pelo talento do compositor de Salzburg e ao mesmo tempo perturbado em não ter sido agraciado com o mesmo dom, Salieri faz do universo musical de Viena o palco perfeito para seu plano maquiavélico. Planeja a morte de Mozart, com estilo, e termina enlouquecido por sua própria raiva, inveja, admiração. Andei pesquisando e pelo pouco que li, parece que essa foi uma licença artística do dramaturgo inglês. Parece que não corresponde ao real. Pouco importa, já que Salieri não é o objeto do filme, mas o meio. Talvez tenha sido a maneira de contar a história de Mozart sem ser tão didático, tão professoral e atingir um público que vai além dos amantes da música clássica.
Funciona, porque tem emoção, intriga, jogo de interesse – algo bem atual e atemporal. Amadeus arrebata oito estatuetas no Oscar em 1985, entre elas a de melhor ator (F. Murray Abraham), diretor, filme, roteiro adaptado – aliás, curioso aqui que o ator de Salieri foi quem venceu a categoria, e não o de Mozart (preferia que tivesse sido ao contrário, acho Mozart o protagonista). Além da música linda, da montagem das óperas, do figurino primoroso e da ambientação da Viena daquele século 18 pré-Revolução Francesa divina, o drama que se instala e é construído, movido pelas artimanhas do italiano Salieri, é envolvente, tem drama e comédia, tragédia e cultura. E dura 2h40. Portanto, reserve tempo, mas não se preocupe: você nem vai vê-lo passar.
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