AS MULHERES DO 6º ANDAR – Les femmes du 6ème étage
Opinião
Havia na França, naqueles anos 60, algo chamado chambres de bonnes. Pequenos quartos no sótão, com banheiros coletivos e em condições bem simples – pra não dizer precárias. O que chamamos aqui de dependências de empregada. Surgiram por lá nos anos 30 e hoje, obviamente, já não são usados para essas funções. Com a ditadura de Franco na Espanha, muitas mulheres se aventuravam por Paris nessa época, em busca de emprego. Eram acomodadas nesses quartos, formando uma pequena comunidade. Eram elas, As Mulheres do 6º Andar. As espanholas.
E são elas que fazem a maravilha deste filme, delicioso de assistir. Protagonizando uma comédia sobre as diferenças de classes, as espanholas são graciosas, engraçadas e, principalmente, têm alegria de viver. O serviço prestado é útil à madames da sociedade como Suzanne (Sandrine Kiberlain, também em O Pequeno Nicolau, Mademoiselle Chambon). E encantam senhores como o austero e acomodado Mr. Jean-Louis (o ótimo Fabrice Luchini, também em Potiche – Esposa Troféu, Paris), investidor importante e rico, representando aqui da aristocracia francesa, que vive de forma abastada, impessoal e previsível, em prédios chiquérrimos com esse 6o andar separado para a criadagem – como se dizia por aqui.
A chegada da linda e simpática María (Natalie Verbeke, também em O Filho da Noiva) faz com que Jean-Louis se aproxime das mulheres do 6º andar. Não com compaixão, mas com admiração e curiosidade. E humildade, o que não era lá muito comum. A amizade surge naturalmente, na mesma medida da naturalidade de figuras divertidas como Concepción, Carmen, Teresa, Dolores, Pilar. É preciso dizer que essas mulheres são protagonizadas por grandes atrizes, como Carmen Maura e Lola Dueñas, presentes em vários dos filmes de Almodóvar. Portanto, um elenco forte, que dá às espanholas uma energia genuína.
Gostoso de ver na sua espontaneidade. Tem um pouco da áurea feminina que se consegue em A Fonte das Mulheres e Caramelo – filmes que me vieram à mente naturalmente, já que todos têm seu grupo de mulheres fortes e decididas, que imprimem uma forma específica de ver a vida. Formam um estereótipo. Árabes, muçulmanas, espanholas, tanto faz. Todos são filmes que tratam de assuntos triviais, com toque especial feminino, divertido e delicado. Precisa mais?
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