BEAU TEM MEDO – Beau is afraid
Opinião
BEAU TEM MEDO — e eu também. Me assustei com essa maneira de narrar que soa pretensiosa e desmedida, desfocada e perturbadora. Em excesso — porque histórias que perturbam temos de monte e fazem parte do cinema universal. Mas Ari Aster exagerou no tempo, no tom, na sobreposição de camadas de uma forma tão sem noção que fica difícil até dizer por onde passa essa história.
O primeiro ato passa por um lugar em que consegui entrar. Joaquin Phoenix (também em Coringa, Ela) é Beau, um adulto traumatizado, carente e imaturo, que depende do terapeuta e é, claramente, hipocondríaco. Um cara solitário e que mora sozinho num bairro totalmente degradado, que lembra uma cena de filme apocalíptico cheio de zumbis. Enquanto ele se prepara para viajar pra casa da mãe, algo acontece e sua vida vira de ponta cabeça.
Não que ela estivesse de pé, mas nessa primeira parte, é possível embarcar na pegada deste adulto traumatizado, que tem sérios problemas de relacionamento consigo e com a mãe, claro. Acontece que, depois do atropelamento, a coisa desanda em ritmo cada vez mais acelerado, numa viagem psicótica que fica difícil entender o que é delírio, o que é realidade.
Nem acho que o diretor quer que a gente faça essa distinção. Na realidade, não sei o que ele quer conosco. Mas fica claro que é uma maneira de lidar com seus próprios fantasmas, de tentar elaborar seus traumas sugerindo que sejam universais.
Podem até ser. Mas nas 3 horas de filmes, tudo fica ainda mais penoso e impossível de administrar do lado de cá, do espectador. Joaquin Phoenix é de uma intensidade que a gente já conhece e de um exagero equivalente. Não é culpa dele. O cara é bom. Aster é que pega pesado. E, que fique claro: não é o pesado de todo o pacote traumático do personagem. Pesado na forma, na viagem e no egocentrismo. Ele esqueceu de pensar no seu interlocutor: nós. E, que fique bem claro: não é comédia, como teimaram em classificar este filme.
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