BLACK TEA

Opinião
Especial para a 74ª Berlinale
Quem assistiu a Timbuktu sobe naturalmente a régua quando se trata do diretor Abderrahmane Sissako. O diretor da Mauritânia tem um olhar cuidadoso e intimista pra falar da África que não conhecemos.
Pra falar primeiro dos acertos de BLACK TEA, começamos pelo título. Chamar o filme de “chá preto” já faz a ligação entre africanos e chineses, com um achado incrível de significado e simbolismo que prescinde de explicações e fala dessa imigração. Mas o filme não é sobre a África geográfica, o que pode ser reducionista, como bem disse o diretor na coletiva na Berlinale. “Queria abrir o olhar, sair da visão eurocêntrica do mundo”, diz ele. “Queria falar da diáspora africana e da mulher africana, que representa todas que atravessam oceanos pra buscar liberdade.”
Acompanhamos um filme em tom de fábula com a protagonista Aya, que diz “não” no altar, sai da Costa do Marfim, migra para a China e vai trabalhar numa loja de chás, cujo dono vai ensiná-la sobre os produtos e sobre a cerimônia do chá preto. Fica a cargo do espectador imaginar como continua a trajetória de Aya, mas é preciso abraçar a viagem interior da personagem pra embarcar.
O que mais me interessou foi o encontro entre africanos e chineses, nessa migração no oriente, diferente do que costumamos assistir. “É um filme sobre a rejeição que os africanos sempre sofreram de todos os continentes, mas é um filme otimista porque acredito que possa haver uma interação entre povos de forma positiva”, diz Sissako. Entrar em contato com essa realidade é o mais interessante de tudo — e fiquei bem curiosa pra saber mais. É uma jornada feminina, mas não um clichê da mulher que busca a liberdade. “É a sua vulnerabilidade que a impulsiona a ser dona da sua vida e tomar decisões”, diz a atriz Nina Mélo. Fato.
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