BODY – Cialo

Opinião
Body tem uma particularidade interessante: usa as questões do corpo, da imagem que temos de nosso forma física, de como ela se apresenta para a sociedade, para falar do nosso espírito. Interessante esse prisma. Não dá pra separar as duas coisas, uma adoece a outra, uma cura a outra. Tem uma poesia nessa descoberta – um pouco cruel e irônica, é verdade; uma mensagem de que é preciso cuidar, olhar para o todo, não desistir.
A diretora polonesa Malgorzata Szumowska recebeu o Urso de Prata em Berlim pelo trabalho e tem mesmo muito mérito. Consegue equilibrar o desequilíbrio. Explico: Janusz é um médico legista, cujo ofício é inspecionar corpos mortos brutalmente, esquartejados, enforcados, violentados – portanto, o corpo aqui é matéria. Olga, sua filha, é uma jovem anoréxica e apática, que não se conforma com a morte da mãe, odeia o pai e não demonstra qualquer vontade de reagir física e emocionalmente – portanto, o corpo enquanto vítima. E Anna é uma terapeuta alegre e solícita, que lida com jovens com distúrbio alimentar, tenta conscientizá-las de que o corpo é ferramenta de expressão da mente e da alma, capaz de libertá-las desse autoflagelo que é a anorexia – portanto, corpo como alma e espírito.
Aparentemente sem possibilidade de conexão entre eles – e muito menos de conciliação – Body mostra que há sim uma possibilidade de enxergar além das distorções e interferências externas que a vida nos impõe. A jovem anoréxica pode ver sua imagem de outra forma, seu pai pode enxergá-la com mais cuidado e amorosidade, e Anna é simbologia de que há ferramentas de intermediação que emanam uma luz sobre o problema. Basta deixar iluminar. Lindo filme.
Comentários