CHATÔ, O REI DO BRASIL
Opinião
Quando contei que assisti a Chatô, O Rei do Brasil, me perguntaram se era fiel ao livro escrito por Fernando Moraes. Já li faz uns bons 15 anos e confesso que não me animo a pegar novamente aquelas 720 páginas pra conferir (embora seja muito bem escrito e mereça ser lido sim!). Tudo isso pra dizer que não me lembro se o diretor Guilherme Fontes, que demorou nada mais, nada menos que 20 anos para concluir o filme, envolto em sombrios financiamentos com dinheiro público, foi realmente fiel ao livro biográfico. E isso pouco importa, diga-se de passagem. Porque o filme é bem feito e tem uma construção interessante dentro do enorme universo de realizações desse excêntrico magnata da comunicação.
Francisco de Assis Chateaubriand era paraibano, semi-analfabeto até os 12 anos e tem esse nome porque sua mãe era devota do santo e seu pai, fã do poeta francês Chateaubriand. Aí já começa a esquisitisse do sujeito simples, que seria um dos homens mais poderosos de meados do século 20 no Brasil, como jornalista, empresário, político e mecenas – é ele o fundador do MASP, afinal de contas.
Superinfluente, Chatô era amado e odiado, um mulherengo inveterado e um sujeito que ficou pra história – goste você dele ou não. Por isso tudo, gosto da cara que Fontes deu ao roteiro: mistura os delírios de um Chatô (na pele de Marco Ricca) já no fim da carreira, agonizando por causa das sequelas de um derrame, e as maluquices e ousadias do tempo de empresário e jornalista. Numa história tão cheia de detalhes, visões ambíguas, muitas verdades e pontos de vista, acho que foi uma saída interessante para não cair no conto da verdade suprema da biografia – que, pelo que me lembro, em se tratando do controverso Chatô, isso seria uma verdadeira armadilha.
Vale dizer que o elenco que cerca o personagem de Marco Ricca, envolvido até o último fio de cabelo com seu ego, mulheres e política, é muito interessante. Andréa Beltrão (também em Pequeno Dicionário Amoroso 2, A Partilha) está incrível como sempre no papel da poderosa amante de Chatô, e Paulo Betti, uma caricatura sulista do Getúlio. Chega a ser engraçado o tom forçado do sotaque – mas não incomoda, porque o filme todo tem esse tom do excêntrico que beira o ridículo, condizente com a figura do magnata, que precisou ousar muito para inovar e fazer outras cositas más.
Comentários