COMANDANTE

Cartaz do filme COMANDANTE

Opinião

Especial 80º Festival de Veneza

Filme de guerra à la italiana. Quer dizer o quê? Salvatore Todaro, o COMANDANTE do título, é conhecidíssimo na Itália: oficial da marinha italiana e submarinista durante a Segunda Guerra, colocou a regra dos marinheiros à frente da lógica da guerra. Sua função era monitorar navios inimigos do Eixo, mais especificamente a Inglaterra, que pudessem ter carga de armamentos destinados a abastecer as nações Aliadas. A ordem era afundar os navios e eliminar o inimigo. Fosse ele quem fosse.

Essa é a lógica da guerra. O que é inusitado nesse personagem é que Todaro resgatava os marinheiros à deriva em seus botes salva-vidas. Sim, parece contraditório e é mesmo. Ele bombardeava sem piedade, o navio ia a pique e, em seguida, ia ao encontro dos militares que estivessem no mar, fadados a morrer. Colocava-os a bordo, independente da nacionalidade. Pela lógica, eram inimigos. Mas, antes disso, eram seres humanos. No filme, a bordo do submarino Cappellini, ataca um navio belga e integra a tripulação sobrevivente aos seus marujos.

Ver a humanizada do outro antes da sua cor, etnia, nacionalidade em pelo Mar Mediterrâneo nos remete aos refugiados à deriva nos dias de hoje — resgatados na água, mas recusados na terra quando se trata de integra-lós à sociedade. Diálogo importante de COMANDANTE com a atualidade.

Pierfrancesco Favino, o ator mais presente no cinema italiano da atualidade, mostra a complexidade do personagem. Vai tecendo alguém humano e militar ao mesmo tempo; alguém que representa seu país no posicionamento político da Itália facista, mas ressalta sua italianidade na cultura da culinária, que mesmo no ambiente claustrofóbico de um submarino construído em tamanho real para o filme, resgata o sabor do pertencimento para um filme de guerra diferente. Repare no design de produção — nas profundezas e na superfície, o submarino e a tecnologia disponível na época são protagonistas da história.  

Inspirado no livro de Sandro Veronesi, é de guerra, mas também de entretenimento, como disse Favino. Um ótimo entretenimento, um filme de ação que nos apresenta este personagem e nos faz pensar na dinâmica das guerras como mecanismos de anulação da humanidade.

Comentários