Opinião

Especial 80º Festival de Veneza

Não se pode acertar sempre e é assim mesmo. Sempre torço para que Woody Allen surja com algo que tenha seu DNA, mas que traga frescor. Ao mesmo tempo, lembrando que o diretor, produtor e roteirista tem praticamente 89 anos, convenhamos que seu legado já está mais do que sedimentado e este frescor já veio. Goste você ou não da sua maneira peculiar de contar histórias, sua filmografia é prova de que sua maneira de falar do ser humano com humor e ironia é memorável. Depois de esmiuçar casamentos, traições e divórcios em Nova York, filmar na Europa renovou sua narrativa sobre seres humanos e relacionamentos imperfeitos. Vicky Cristina Barcelona e Meia-Noite em Paris foram geniais, intercalados com filmes instigantes e originais como Ponto Final: Match Point, Blue Jasmine e O Homem Irracional. Tudo isso condensado em 10 anos — o que não é, absolutamente, pouca coisa.

Tudo isso pra dizer que pulei seus filmes dos últimos anos depois de tentar assistir ao chatérrimo Roda Gigante (pronto, falei!). Quando me deparei com GOLPE DE SORTE EM PARIS, exibido fora de competição em Veneza em 2023, fica claro que Paris não é um acaso. Cancelado nos Estados Unidos e com dificuldade de financiar seus filmes por lá, faz um filme com um clima mais vingativo, por assim dizer — embora, claro, continue apostando na conhecida composição da coincidências-casamento-traição-crime e sorte, claro. Vai numa toada da psique humana e suas neuroses, diverte e distrai — e se isso for o suficiente, aproveite! Pra quem não se interessou por seus últimos filmes como eu, este é gostoso de ver. Tem ótimos atores e é falado em francês, o que dá um charme extra ao outono em Paris.

Fanny e Jean formam, aparentemente, o casal perfeito. Bonitos e bem sucedidos, circulam pelos eventos badalados, têm do bom e do melhor, e moram num bairro chique da capital francesa. Parecem, inclusive, apaixonados. Só que paixão não resiste à rotina do casamento e bastou Fanny se encontrar por acaso Alain, um antigo amigo da escola, pra acender uma faísca de novidade no ar. Depois dessa coincidência, tudo que você for capaz de imaginar neste cenário déjà vu, vai acontecer.