CRAPRI-REVOLUTION

Opinião
Capri-Revolution é totalmente solar, como se diz por aó. A ilha italiana de Capri em toda a sua beleza é a casa escolhida por jovens de classe média do norte da Europa – bem formados e com dinheiro -, que abdicam de tudo para viver em comunidade no sul da Itália. Isso nos anos 1900, após a Revolução Industrial e nas vésperas da Primeira Guerra. E é solar, não só literalmente, mas também na esperança de um mundo em que coletivo e indivíduo possam caminhar juntos.
Do diretor italiano Mario Martone, Capri-Revolution (aliás, que título!), conta a história de Lucia, uma mulher na casa dos 20, que vive em Capri na família patriarcal, em que está sob os mandos do pai e dos irmãos. Analfabeta, a ilha é seu mundo – aliás, “é metáfora do mundo mesmo”, diz o diretor na entrevista para a imprensa no Festival de Veneza – que recebeu ele e sua obra muito calorosamente. “Nessa ilha, a única coisa possível é confrontar-se, derrubar os muros, pensar junto e ver se, do confronto pode-se tirar algo de novo”, complementa. Intrigada com a comunidade de jovens que se instala na ilha – e que causa a maior falação entre os habitantes locais, católicos e tradicionais -, passa a observá-los, fica curiosa, se aproxima. “Lucia é a figura feminina que não se anula e não tem medo do outro”, diz a atriz Marianna Fontana. “Para ele, as imposições ideológicas masculinas não a convencem e precisa de liberdade.”
Sim, Lucia é a figura que amadurece, pondera, escolhe o caminho. É um filme esperançoso, como quem vê possibilidade de conviver em sociedade, respeitando e ouvindo opiniões opostas. “Temos a visão machista, a visão de Lucia, da ciência, na figura do médico, do líder da comunidade que cultiva a convivência, a tolerância, a arte, a música, como forma de estar melhor no mundo”, diz Montone.
A comunidade existiu, mas esta não é uma tentativa de reconstruir personagens. É mais, segundo ele, uma ideia de falar dessa geração que se via encurralada diante das mudanças do mundo industrial no norte europeu, dos desafios, e busca resgatar o humano, a natureza. Lucia é essa pureza. Mas que busca pertencer, ser dona da sua vida, relacionar-se com ela mesma. Uma poesia. Esperançosa.
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