DOR E GLÓRIA – Dolor y Gloria
Opinião
É em Dor e Glória que Pedro Almodóvar entrega a sua alma. Tenro e objetivo. Emotivo e lúcido. Com dores e sabores. Um distanciamento que faz essa visão ser possível, ela que vem com a maturidade, num retrato de si próprio e de sua obra que se mesclam, inevitável e felizmente.
Mesmo tendo afirmado em Cannes, onde o filme fez sua estreia mundial, que não se trata de uma cinebiografia, o diretor espanhol nunca escondeu as porções do seu cinema inspiradas em sua trajetória pessoal. Mais do que porções – talvez seja a sua obra como um todo. As mulheres que rodearam a sua criação, o sexo, as cores, a homossexualidade, as drogas, os impulsos, a vida como ela é, na sua intensidade pra quem quiser enxergar.
Antônio Banderas é Salvador, um diretor de cinema renomado que reflete sobre sua trajetória e carreira, se reconcilia com o ator de um de seus filmes, reencontra seu grande amor depois de décadas e resgata o desejo mais íntimo, aquele que move tudo. Não é por acaso que a produtora de Almodóvar se chama El Deseo. É o motor propulsor de tudo em seu cinema – ao fazê-lo, ao oferecê-lo ao espectador. Dor e Glória parece uma mãe, que abraça seu filho com ternura, acolhendo sua obra mais genuína, amando todas as suas imperfeições.
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