ERVAS SECAS – about dry grasses
Opinião
O título ERVAS SECAS se justifica mesmo em pleno inverno. Em algum vilarejo remoto da Turquia, onde o inverno é inclemente e o branco da neve, onipresente, dá pra imaginar que o diretor Nuri Bilge Ceylan não daria aos seus personagens uma primavera florida. Afinal, a natureza faz sua parte contando qual é o estado de espírito do grupo de professores de uma escola na região de Anatólia. Desolação e desesperança combinam com o vento, o inverno, a escuridão dos espaços internos e do gélido exterior.
ERVAS SECAS é o retrato da primavera que despontará no horizonte, depois que a seguinte trama se desenrolar. Samet cumpre um período obrigatório nesta escola, mas detesta tudo e todos. Está impaciente pra voltar pra Istambul, trata os alunos com desprezo e engana seu amigo, Kenan, já mostrando que vive-se ali num salve-se quem puder.
Rodeando os muitos diálogos íntimos e as reflexões sobre a condição humana mais profunda e mais sombria está o dilema do comportamento suspeito de Samet e Kenan em relação a uma aluna. A narrativa está cheia de ambiguidades e interesses escusos tanto dos professores, quanto da aluna, dando ao espectadora a possibilidade de fazer a leitura tanto da inocência, quanto da manipulação, chegando a nenhuma conclusão.
Mais um filme com a educação escolar no centro. Em tempos de tantas distorções, personalidades dissimuladas aparecem de monte neste ambiente (des)construtivo, num alerta de que está realmente tudo dominado.
Mas quem tem traz a objetividade da dor e da mágoa é Nuray. Também professora, sofreu uma mutilação e precisa descobrir o que ela perdeu ao perder a perna. O físico representa o psicológico, num mundo que não entrega de bandeja mais nada, nem mesmo a primavera, nem mesmo a ilusão de que a ficção pode ser real.
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