Opinião

Indicado ao Oscar de melhor documentário, ESCREVENDO COM FOGO é um registro poderoso. O Khabar Lahariya é o único jornal inteiramente feminino na Índia, formado por um coletivo de mulheres rurais que lutam pra vencer diversas adversidades todos os dias.

No site do jornal, um editorial esclarece que o documentário mostra só um viés deste trabalho. Ela ressalta que o coletivo é, essencialmente, um trabalho de luta para sobreviver, de vulnerabilidade constante, embora o documentário as coloque no papel de heroínas.

“Diferente do que o filme mostra, não conseguimos lidar com a questão da casta de maneira leve, com coragem e humor. Pelo contrário: tivemos que ser discretas, proteger as nossas famílias, principalmente as crianças que também têm batalhas pra lutar todos os dias.”

Interessante este ponto. Sempre ressalto que, mesmo sendo documentário, o diretor tem que escolher um recorte, um olhar. Mas tem o outro lado da moeda, que traz um choque maior de realidade, que as próprias jornalistas não viram no documentário.Por isso, fica a dica: mesmo ao assistir a docs, que são recortes da realidade (diferente de uma obra de ficção), há uma escolha por um ponto de vista, em detrimento de outros. Se assistimos com essa consciência, o produto fica ainda mais interessante, dando margem pra outras reflexões e aprofundamentos.

“Agora que o jornal completa 20 anos e que temos a oportunidade de sermos conhecidas no mundo todo com o Oscar, queremos contar o que realmente faz com que um coletivo de mulheres pratique jornalismo rural independente neste mundo em que vivemos.” Inspirador. O canal do YouTube tem mais de 10 milhões de visualizações/mês, com mais de 500k inscritos, falando de política, educação, violência doméstica, questões de gênero, economia e tudo mais que precisa ser falado pra construir uma sociedade mais melhor. Elas escrevem com fogo, como bem diz o título, mexendo num vespeiro que precisa ser neutralizado com a força de quem não desiste.