EXPOSIÇÃO – RELICÁRIO – VIK MUNIZ

Opinião
Em entrevista a um site de notícias, o artista plástico Vik Muniz soltou uma frase que diz tudo sobre a sua maneira de olhar, pensar e reproduzir a imagem: “… não devemos consumir a imagem na postura de vítimas, mas sim como produtores”. Trocando em miúdos, ao invés de olhar e receber passivamente a imagem produzida (inclui-se, aqui, as imagens publicitárias bombardeadas diariamente e tudo mais que chega para nós já pronto, remodelado e repleto de intenções), precisamos ter senso crítico e elaborar, a partir dela, nossa própria ideia daquela figura ou conceito.Vide seu mais recente trabalho Lixo Extraordinário – documentário que concorreu ao Oscar nessa categoria.
É basicamente isso que Vik Muniz faz com as obras produzidas nas décadas de 80 e 90, expostas no Instituto Tomie Ohtake, na exposição Relicário. Com mármore, tecido, madeira, gesso, plástico, prego, arame, ele faz uma releitura de peças do cotidiano, através da sua perspectiva. Particularmente, gostei muito da ampulheta: ao invés de areia, ela é preenchida com tijolos. Portanto, o tempo não passa – literalmente. Outra obra interessante é o sarcófago de tupperware – ironia à era do plástico, do consumo? E por aí vai. Tire suas próprias impressões do crânio com nariz de palhaço, da bola murcha, das fotos de flores artificiais, do emblemático Mickey perfurado por pregos, do espelho que já não reflete mais, da camisola gigante com seis mangas. Mas não deixe de prestar atenção nos títulos das obras – que por si só já estão cheios de significado.
A sensação que dá é que tudo aquilo mostra o quanto somos pouco criativos com todas as informações que recebemos a cada minuto. Escancara o comodismo, a falta de questionamento e aproveitamento de seus elementos, que podem ser transformados e reutilizados de outra forma. Reciclar a imagem, o lixo, o objeto, a ideia, o pensamento a partir da sua própria e única visão de mundo – essa é a mensagem que fica, já tantas vezes repetida no dito popular: fazer das tripas, coração; do limão, uma limonada e assim por diante. É um interessante exercício à releitura.
Para saber mais sobre o artista: www.vikmuniz.net
Até 24 de abril, de terça a domingo, das 11h às 20h. Instituto Tomie Ohtake (Av. Faria Lima, 201, Pinheiros-SP. (11) 2245-1900). Gratuito.
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