FERRUGEM

Cartaz do filme FERRUGEM
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Opinião

A internet está aí pra isso: para abrigar trabalhos independentes e driblar os grandes empecilhos e custos que a veiculação normal exige. O bom é que estamos saindo das comédias déjà vu e expandindo para outros gêneros – o que pode ser o começo de uma geração de webséries de qualidade. Ferrugem, disponível no Youtube (é clicar no link do título), é um bom exemplo. Sensível, tem olhar diferenciado, qualidade e um texto subliminar que amarra essa (im)provável história de amor.

Depois de dois anos juntos, Bruno e Letícia resolvem se separar. Mas não pode haver separação de fato. Eles têm um compromisso familiar no interior de Minas e precisam fazer essa viagem juntos. No entanto, selam um pacto e o desafio aqui é separar-se de alguém quando se é, na verdade, inseparável. Bruno e Letícia são irmãos e precisam encontrar uma maneira de lidar com esse amor – ao mesmo tempo fraterno e afetivo.

Dois fatores fazem com que você queria saber o final da série, dividida em três episódios. O primeiros deles é a filmagem, com cara e fotografia de cinema. Você embarca na viagem junto. O segundo são os diálogos, a escolha das palavras e suas contradições, faladas da boca de quem se conhece muito bem. É como se a intimidade de toda uma vida invadisse a vida do outro e se tornasse parte do mistério que sempre permeia o relacionamento de um casal. Tem uma linha tênue, que é quebrada pelas perguntas de Letícia e pela contestação de Bruno. Como já disse, é subliminar. E isso é um plus que faz a diferença.

Fiquei pensando onde entrava o título da série. O termo “ferrugem” me remete à passagem do tempo, às cicatrizes e passagens mal cuidadas. Fiquei curiosa e foi Paula Vilela ,idealizadora da série e atriz, quem me contou sobre a epígrafe que vem junto do título: “Ferrugem é o nome dado ao amor que acontece entre as coisas e o tempo”. Começou a fazer sentido. Ela contou que a ideia tinha sido discutida durante uma interessante reflexão trazida pelo roteirista Diogo Liberano, que me explicou como tudo começou. “A escrita dos episódios nasceu a partir das fotos das locações”, conta ele. “Já se sabia que a história acompanharia o percurso dessa viagem dos irmãos até um encontro da família. Se o percurso dos dois nessa viagem visava também encerrar a relação entre eles, como roteirista eu fiquei me perguntando o que sobreviveria após o fim.”

Boa pergunta, que você vai saber no final da série. O que importa aqui é que Liberano percebeu, atento às locações, que naquele amontoado de ferro já sem uso só se via ferrugem. “Lembrei-me de uma fala de uma peça que escrevi em 2010. Nela, uma criança perguntava a sua mãe o que era a ferrugem que existia numa escultura que ficava no quintal. A mãe respondia: é o amor que acontece entre as coisas e o tempo. E então nasceu Ferrugem, este amor que sobra mesmo quando o amor termina.” Eu não disse que o texto era subliminar? O título também.

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