FICAREMOS BEM – Hope
Opinião
HOPE (esperança) é o título original deste belo filme norueguês. Esperança médica não há, já que de cara sabemos que Anja, a protagonista, está com câncer terminal. Mas aos poucos nos damos conta de que a diretora Maria Sødahl se refere à esperança de que Anja e Tomas possam se amar, apesar de tudo.
Mas é no subtítulo que mora a chave pro coração do filme – e é aqui que vamos nos ater. Em tradução livre, seria o seguinte: o que dizer sobre o amor quando só restam três meses de vida? E esqueçamos a escolha em português: FICAREMOS BEM aniquila essa bonita trajetória de esperança que conta a história da Anja, uma artista que recebe, na véspera de Natal, o diagnóstico de câncer terminal.
Mas não é sobre o drama da morte. Muitas escolhas no filme fazem dele uma pérola – às vezes, escondida. Por isso, vou tratar de desvendar os detalhes especiais. O principal é que Maria Sødahl escreve e dirige essa narrativa com base nas suas memórias desse momento natalino traumático. Sim, é uma obra autobiográfica, mas, como ela mesma disse em entrevista, baseada nas lembranças que ela tem daquele momento. É como ele se enxerga, agora já passado um tempo e com a chance de se distanciar da própria trajetória.
Para contar essa história tão pessoal – e tão universal, como ela também disse -, a opção foi não ser dramática, mas sim realista. Mostrar os sentimentos como eles são, assim como as relações. Anja e Tomas são casados, têm 3 filhos juntos, mas ele tem mais 3 do 1º casamento. São seis. Era preciso que a casa tivesse uma áurea familiar e para tanto, não há atores profissionais além do casal. Os filhos são atores amadores, assim como o corpo médico que vai permear a narrativa. As cenas em hospitais e consultórios contam com médicos, enfermeiros, técnicos de verdade, que trazem a postura real da situação difícil por que passam os personagens.
Tudo isso pra dizer que HOPE traz aquela atmosfera típica do cinema escandinavo, de realismo, da vida como ela é; produz a sensação de que estamos em uma casa de verdade, de que as pessoas não estão encenando, de que vale falas de improviso, de que a luz é natural. De que é gente comum como nós – e isso nos coloca ali, junto, vivendo os dilemas das tomadas de consciência de Anja, e de silêncio de Tomas. Vai se (des)construindo o (des)amor.
E por falar em amor, onde é que ele cabe? Se cabe, Anja e Tomas têm, justamente, que avaliar. O que a vida preparou pra eles, o que eles construíram e o saldo de tudo isso, é nessa véspera de Natal e Ano Novo que lhes cabe fazer o balanço.
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