FILHO DE SAUL

Opinião
Assisti na Mostra Internacional de São Paulo do ano passado e sai arrasada. Quando parece que a gente já viu o suficiente sobre o Holocausto, vem um olhar diferente e ainda mais atordoante. Mas é imperdível, exatamente por isso: coloca você num lugar incômodo, de dor e sofrimento inimagináveis.
Lendo isso até parece que não vale o ingresso. Vale sim! Sair do lugar de conforto com essa qualidade de reflexão é um privilégio. O foco é fechado em Saul, um prisioneiro judeu, num lugar claustrofóbico, escuro, cercado de morte. Ele está preso em Auschwitz e faz parte do grupo escalado pelos nazistas para “receber” os judeus nas câmaras de gás, separar seus pertences e “limpar” o ambiente depois que só sobraram corpos no chão. Cruel assim. Esse grupo de prisioneiros era chamado Sonderkommando e ficava isolado no campo de concentração, numa tensão absoluta e completa.
O filme tem cheiro de morte. O olhar de Saul para as pessoas que chegam e ainda acham que vão tomar banho, seus gestos de sutil gentileza com essas vítimas, seu desespero ao perceber que um dos garotos sobrevive ao gás e sua incessante busca pela dignidade final são de causar mal estar. Filho de Saul tem esse dom: deixar claro que a vida é o mais precioso, mesmo em uma situação como aquela; que procurar um rabino e fazer um enterro decente ainda faz algum sentido.
Húngaro, Filho de Saul ganhou vários prêmios em Cannes, foi o melhor filme no Globo de Ouro e concorre ao Oscar. O ator Géza Röhrig faz sua estreia em longas com este filme. É tão forte que fica difícil acreditar que o cara é novato.
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