FLOR DO DESERTO – Desert Flower

Cartaz do filme FLOR DO DESERTO – Desert Flower

Opinião

“A mutilação genital feminina não tem nenhuma relação com a cultura, a tradição ou a religião. É um crime.”

– Waris Dirie

 Melhor Filme Europeu escolhido pelo Público no Festival de San Sebastián, 2009

Waris Dirie chamou a atenção da imprensa quando seu belo rosto passou a ser estampado nas revistas e nas passarelas mundo afora. Ao ser entrevistada, a modelo somali negou que o dia em que foi descoberta por um consagrado fotógrafo enquanto fazia a limpeza em uma lanchonete em Londres tenha significado a grande mudança da sua vida. O dia decisivo, que direcionaria seus passos, teria acontecido muito antes e marcaria sua vida para sempre.

Aos cinco anos, Waris foi vítima da mutilação genital feminina – ato brutal em que o clitóris da menina é extirpado para evitar que tenha prazer na relação sexual. É justificado pela tradição e pelo islã, principalmente em países africanos, entre eles a Somália. Vítima da barbaridade, Waris escolheu abandonar a rentável carreira de modelo internacional para levantar a bandeira contra a brutalidade. Escreveu o livro homônimo Flor do Deserto (que é a tradução de Waris) e montou uma fundação que leva o seu nome para montar projetos para assistir cerca de 150 milhões de mulheres que sofrem com as consequências da mutilação, levantar fundos e conscientizar as pessoas através de campanhas internacionais. E mais, autorizou a produção deste filme, que conta sua história.

Flor do Deserto fala da trajetória real da menina nômade, que foge da família pelo deserto, vai para Londres, passa fome e necessidade, encontra ajuda, é descoberta pelo mundo da moda e hoje é embaixadora da ONU (interpretada pela top-model etíope Liya Kebede). A história é incrível, dirigida com sensibilidade e até com toques de humor. Aliás, acho que esse é o ponto. Apesar do tema difícil, o filme tem mais humor, cor e graça do que se imagina para uma vida sofrida como essa e não cai no provável dramalhão. Talvez por isso não tenha cara de documentário. Faz alarde sem fazer terror. Talvez uma estratégia para não tornar tudo tão pesado e, assim, atrair o grande público aos cinemas. Afinal, alardear o assunto e conseguir apoio mundial para punição dos culpados é o grande objetivo. Além de fazer, é claro, alguma diferença.

DICA AFIM: A também somali Ayann Hirsi Ali tem uma história parecida. Confira o impressionante relato no livro Infiel. 

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