FROST/NIXON
Opinião
“Quando o presidente faz algo errado, não é ilegal.” – Richard Nixon
É justamente para arrancar a declaração de que sabia de tudo e para redimir o povo americano que o apresentador inglês de programas de entrenimento, David Frost, investe alto para conseguir entrevistar o ex-presidente em 1977, três anos após a renúncia. E é justamente essa série de quatro entrevistas, filmadas em quatro dias diferentes, que é retratada no filme como se fosse uma batalha de vida ou morte. Vale dizer que o embate tornou-se célebre, virou peça e agora filme nas mãos do diretor Ron Howard, o mesmo de A Rainha.
Nixon renunciou à presidência dos Estados Unidos por causa do famoso grampo na sede dos democratas em Watergate, durante a campanha para a sua reeleição, em 1972. A mesma opinião pública que o elegeu aliou-se à mídia e a poderosos informantes para tirá-lo do poder. Sem confessar culpa, Nixon sai dos holofotes e deixa o povo americano sem seu pedido de desculpas.
Portanto, o cerco está armado. De um lado o apresentador de futilidades luta por sua reputação e prestígio no meio jornalístico e aposta todas as suas fichas na possibilidade de arrancar uma declaração arrasadora da boca do presidente; de outro o presidente boêmio, beberrão, bon vivant, que com excesso de confiança acha que facilmente escapará das perguntas fúteis do apresentador estrangeiro. Algum dos dois sairá perdendo
Vale a pena ver, sem dúvida. Além de mostrar os bastidores, os medos, as estratégias de cada um, o filme tem um tom de documentário. O time escalado por Frost para fazer parte da equipe que preparou a entrevista dá seu depoimento sobre a empreitada, falando diretamente para as câmeras, dando um tom de veracidade ainda maior ao relato. Sem falar em Langella, que realmente se parece bastante com Nixon (se tiver curiosidade, as entrevistas verdadeiras estão disponibilizadas na internet).
Vale ainda dizer que, para nós, brasileiros, assistir o embate entre Nixon e Frost é quase que um déjà vue de corrupção, sabotagem e espionagem. Com a sutil diferença de que no caso de Nixon, a declaração do presidente faz toda a diferença. No Brasil, nos contentamos com algo mais simplório como “não-sabia-de-nada”, “a-culpa-é-do-mordomo” e por aí vai. Cada um tem o que merece.
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