GOLDA
Opinião
Suzana Vidigal _ especial 73ª Berlinale
Esta não é uma “biopic” da primeira-ministra de Israel. Nem pretende fazer um julgamento de suas escolhas políticas. O que temos é um recorte específico de um momento fundamental da sua gestão: a Guerra do Yom Kippur, em 1973, quando Israel foi pego de surpresa pelo ataque das forças sírias e egípcias em pleno feriado, deixando uma geração de soldados mortos e impactando toda a geopolítica do Oriente Médio.
Helen Mirren é Golda Meir e, sobre essa escolha, o diretor israelense Guy Lattiv diz que a atriz, que já fez Elizabeth I e II (A Rainha) no cinema, mergulhou e entendeu a complexidade da personagem. Golda é pragmática, clara, direta. Mas também espirituosa. A última cena é prova disso.
O recorte desta figura controversa neste período crucial também mostra que Golda sofria também por dentro. Estava doente. Sua guerra de trincheiras era solitária. Precisava cuidar da saúde e do destino do país. Estava entrincheirada — e Lattiv constrói este clima tenso, encurralado, até claustrofóbico.
Sempre rodeada por homens, era a “dama de ferro” israelense. O recorte de tempo é curto, mas muitas nuances são plantadas ali. Inclusive a de que a visão estava turva. Era difícil enxergar com clareza. O cigarro entra como metáfora. Fumante compulsiva, não há cena em que Golda não esteja com cigarro na mão. Sinal dos tempos, em ambos os sentidos.
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