Opinião

Aprendi a ver filme de super-herói depois da trilogia do Batman, de Christopher Nolan. Ou melhor, aprendi a gostar. O diretor traz pra realidade o que não é real, transforma o herói em anti-herói, humaniza o supremo e mesmo assim a gente continua acreditando que a caverna do Batman existe. Genial. Em Interestelar, o princípio é quase o mesmo: a humanidade vai ser extinta, a Terra vai ser sufocada pela poeira e um caipira improvável, ex-piloto da Nasa, é a única chance de encontrar outro lugar onde o homem possa viver.

Só que às avessas: um anti-herói transformado em herói repentinamente, que quer o seu momento glorioso e precisa enfrentar questões familiares, que é protagonista da mistura do rústico, empoeirado mundo terreno sem perspectiva, com a sofisticação, o silêncio e o horizonte sem fim do espaço.

Entre tudo o que se pode dizer dessa produção impecável, dessa aventura espacial de infinitas dimensões e fatias temporais difíceis de explicar, e da imaginação sem limites do diretor e roteirista, eu destacaria duas coisas. A primeira diz respeito a essa questão do fim do mundo que está rendendo filmes como nunca e parece motivar – e fascinar – os roteiristas. Só nos últimos tempos, lembro de Elysium e A Caçada. Será que estamos tão perto assim de ficar sem água, comida etc? Qual seria a sua versão do fim do mundo (clique no link ao lado para ver a lista de filmes)? A de Nolan mistura as dimensões do tempo e do espaço, criando uma realidade virtual complexa e às vezes difícil de acompanhar. Mas faz parte da sua maneira de fazer cinema – quem não se lembra da complexidade dos sonhos dentro dos sonhos de A Origem?

Outro aspecto é o humano. Assim como em Batman, de nada adianta um mundo impecável se as relações humanas não existirem, principalmente no que tange as relações familiares, aquelas tão difíceis de lidar, que pouco escolhemos, mas que tanto nos transformam. Interestrelar é filme para assistir mais de uma vez, porque há muitas reflexões embutidas. Se você está se perguntando o filme se parece com Gravidade, saiba que não. Gravidade tem para mim um apelo até poético (de visão e significado); Interestelar é aventura de ficção científica. Mas faço uma  ressalva importante em relação ao tempo de duração: com quase três horas, a viagem intergaláctica ficou longa demais para mim. Dava para encurtar um pouco, até pela complexidade do raciocínio de Nolan na questão do tempo e do espaço. Teria sido uma viagem espacial um pouco mais suave.