LINHA DE PASSE
Opinião
Achei Linha de Passe muito interessante. Esperava algo parecido com Cidade de Deus ou Última Parada 174 – mas me enganei. Este filme de Walter Salles (que conta novamente com Vinícius de Oliveira, o garoto de Central do Brasil) não retrata jovens que escolheram a violência e a droga, mas sim jovens com família, que driblam a pobreza e a falta de perspectiva para seguir a vocação e o sonho – dentro do que é possível.
São cinco histórias que se cruzam: da mãe Creuza, doméstica, grávida de pai desconhecido (Sandra Corveloni, melhor atriz em Cannes), e dos quatro filhos. Cada um deles segue uma trajetória: um é motoboy, outro aspirante a jogador de futebol, outro frentista e crente, outro estudante em busca do pai desconhecido. Tudo isso em Cidade Líder, periferia de São Paulo. E aqui, para os paulistanos, São Paulo é mostrada também como personagem. A cidade amanhece para que o trabalhador possa ir à luta, a cidade não facilita, dá maus exemplos, é impeditiva para a realização dos sonhos. E é mesmo. Os personagens são reféns da cidade.
Em um determinado momento do filme, meu filho me perguntou por que Dênis (João Baldasserini, o motoboy), vai por um determinado caminho. Achei uma observação muito sensível e fiquei sem uma resposta concreta. Então percebi que esse era o ponto do filme: a escolha. A questão aqui é mostrar a vida de tantos na periferia, suas opções e consequências, com um olhar quase documental e muito real – mas sem romantismo. Tem até um tanto de melancolia, um final que não conclui, assim como a vida, que vai no rumo da trilha que tomamos.
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