Opinião

Chamar o filme sobre a cantora de ópera mais célebre que já existiu somente de MARIA tem uma razão de ser. Pra fechar a trilogia das três mulheres ícones do século 20, o diretor chileno Pablo Larraín nomeia ‘La divina’ de uma maneira comum. Ela é simplesmente Maria. Assim como fez com Jackie e Spencer, sobre Jackie Kennedy and princesa Diana respectivamente. Claro, porque a ideia é fazer um recorte sobre um momento específico da sua vida, longe dos holofotes, algo íntimo, diferente de tudo que já foi dito sobre ela.

Obra de mestre, inclusive porque são pessoas já viradas do avesso em documentários, fotografias, vídeos, reportagens. A famosa cantora de ópera greco-americana Maria Callas, feita por Angelina Jolie, é somente MARIA na pele de Angelina Jolie, focado nos últimos momentos da sua vida em Paris nos anos 1970. O piano que vive mudando de lugar é metáfora da dúvida que Maria tem neste momento sobre a notoriedade da sua voz e a importância da sua pessoa no mundo; o retrato da sua vida íntima, amparada pelos fiéis mordomo (Pierfrancesco Favino) e cozinheira (Alice Rohrwacher), é uma amostra da solidão dentro da sua própria casa — que se torna também o retrato também da sua casa interna. “Apersonagem se torna a soma das tragédias que ela cantou”, disse Angelina. Tem razão.

A ópera é pano de fundo, não só pelo métier da personagem, mas também pela dramaticidade contida na história da ópera em si. A vida de Callas passa pelo sucesso, fama, dinheiro, amores e desamores. Passa por Jackie Kennedy e Onassis, por traições, desilusões e forte depressão. Larraín, que ano passado apresentou O CONDE em Veneza e fez, no filme, sua leitura de Pinochet com criatividade e fantasia, tem um olhar particular para retratar pessoas reais. Com disse Larraín, “poucos artistas no mundo são capazes de fazer com que a gente sinta nossa própria emoção através da arte que eles produzem”. Callas é uma delas, porque a gente se emociona com a sua trajetória — embora Angelina faça muitas caras e bocas demais da conta.