Opinião

Assistido na 72ª Berlinale_2022

NANA é filmado na língua sundanesa, o que faz ele ser ainda mais genuíno, na Indonésia com centenas de grupos étnicos e idiomas. Conduz, com suavidade, música, doçura e firmeza, pra intimidade de NANA, um mulher que representa aquilo que significa ser mulher neste país .

Nana representa as mulheres que tiveram que atravessar períodos conturbados, de muita violência nos anos 50 e 60. O momento pré-independência, o momento comunista e o anti-comunista, que veio depois. Nana se casa, o pai e o marido são mortos, ela foge e anos depois vive confortavelmente com seu segundo marido, cercada pelos filhos e pela natureza. Mas o passado surge nos sonhos e, a bem da verdade, Nana vive sobressaltada pelas memórias que seguem vivas dentro dela.

“Viva como a água, que se adapta a qualquer recipiente”, diz a personagem Nana, que foi inspirada na mãe da produtora do filme, que tem uma conexão familiar com Kamila Andini, diretora. “As mulheres tiveram que se adaptar a muitas mudanças em um curto espaço de tempo”; explica Kamila. “Não só como cidadãs, mas como mulheres, nos relacionamentos, na sociedade, como donas de casa, para então encontrar uma maneira de se conectar com elas mesmas.”

Kamila se interessa por esses assuntos tão particulares da Indonésia mas, ao mesmo tempo, tão universais. “Todos nós temos muitos segredos, e essa geração retratada no filme, que é da minha avó, precisou esconder muitos problemas e desejos pra manter a imagem da família”, diz. A questão que ela coloca é: como fazer pra viver com eles? A metáfora do cabelo é linda: mulheres têm cabelos compridos, mas só sabem com eles presos – isso porque têm que manter seus segredos bem guardados.

A música e o som são elementos que compõe esse universo interno, “essa camada que atinge a memória, a esperança e a dor”, diz Kamila muito bem, dando significado pra esse cuidado que realmente nos transporta para dentro de quem é Nana e todas as outras mulheres ao seu redor. A liberdade faz sentido com essa poesia e esse lirismo que vem com a estética deste belo filme.