O BRUTALISTA – The Brutalist

Opinião
Duas pegadinhas que me pegaram de jeito e podem te ajudar a não ficar na dúvida sobre o fato de O BRUTALISTA ser um ótimo filme: assista descansado porque as 3h30 exigem (o intervalo de 15 minutos é muito bem-vindo); László Tóth, embora pareça um personagem real, é fictício (isso ajuda a captar as metáforas do filme, que não são poucas).
A começar pelo movimento inicial do filme em que o arquiteto judeu húngaro László Tóth (Adrien Brody) está desembarcando em Nova York depois de sobreviver ao campo de concentração na Segunda Guerra. Consegue começar a vida, espera pela sua esposa e sobrinha que também sobreviveram e segue em busca de trabalho. É acolhido por um primo, consegue seu primeiro trabalho como arquiteto e se depara com um jogo de poder e ambição logo de cara. O poderoso cliente Van Burren oscila entre parceiro e carrasco, mas sempre egocêntrico e implacável. Projetar uma estrutura grandiosa como aquela imaginada por Tóth, no estilo brutalista, compõe a “casa interna” do personagem: frio, sombrio, impessoal. Reflete o personagem, mesmo não sendo a sua própria casa.
Mas é a sua obra e a discussão sobre criador e criatura se dá de maneira bem clara — e controversa. Até onde vai a criação artística e os códigos arquitetônicos carregados de significados se eles esbarram no fator comercial e nos interesses mundanos? Isso também levanta a questão da identidade, do não-pertencimento, da imigração — tudo relacionado com o fazer arquitetônico de quem imprime seu rigor técnico e sua moral, mas é desafiado pela rigidez do ser humano. Recolhido dentro dele, tem como alterego sua esposa Erzsébeht, que tudo percebe e funciona como aquela que busca fazer justiça mesmo sabendo que a injustiça prevalece.
Uma reflexão épica, O BRUTALISTA. Terminei o filme achando que Tóth realmente foi um importante arquiteto, mesmo sabendo que é criação de Brady Corbet. Sinal de que a narrativa funciona. Só me deixou o incômodo dos minutos desnecessários e da confusão dos diálogos ora em inglês, ora em húngaro.
Comentários