O CLUBE

Cartaz do filme O CLUBE

Opinião

Tudo em O Clube perturba. A cor do filme é opaca – temos sempre a impressão de faltar nitidez e luz. Difícil enxergar os detalhes, o olhar das pessoas. O tom de voz é contido, pausado, dissimulado, quase um sussurro – quebrado, somente, por momentos de raiva e dor. Os depoimentos, dentro desse clima sombrio e gelado, são tenebrosos: confissões de abusos, violência física e moral, perversão. Tudo causa desconforto e perturba – joga um facho de luz sobre o cinismo e as mentes doentias de padres católicos acusados de pedofilia e tráfico de bebês no Chile.

Pablo Larraín levou o Urso de Ouro em Berlim por este filme e é ele o diretor de No e Jackie. Tem um olhar diferenciado no seu cinema – mistura ficção com uma lente documental. Em O Clube, isso também acontece. Os padres estão confinados em uma casa no litoral chileno, ironicamente chamada de “clube” no título. São todos criminosos: cometeram pedofilia e abuso de menores, intermediaram o tráfico de bebês durante a ditadura de Pinochet, foram cúmplices de tortura. Acusados, eram isolados em casas como essa, privados de qualquer contato externo, nem com a comunidade local, para que ninguém ficasse sabendo, para que escapassem da justiça e a imagem da Igreja não fosse manchada.

Larraín conta a história de como vivam esses ex-padres excomungados, sob cuidados de uma religiosa também perversa, até que uma das vítimas de abuso aparece, seguida da chegada de um outro religioso que vai funcionar como um examinador da consciência de cada um. Além de provocador, causa incômodo, questiona o pecado e o arrependimento – em que lugar essas linhas se cruzam, se é que cruzam -, e dá um desfecho avassalador: quando não se vê possibilidade de mudança de conduta, arrependimento real, fazer o bem e servir ao outro pode ser um caminho.

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