O EXERCÍCIO DO PODER – L’exercice de L’état

Opinião
“Bertrand, você não está aqui para mudar o mundo, mas para recuperar 5% de aprovação que vamos perder com as privatizações do setor ferroviário.” – primeiro-ministro francês
O exercício do poder visto do lado de cá, é cruel. Essa sensação a gente sabe com qual é: sentir-se enganado e trapaceado, ao mesmo tempo que impotente diante da poderosa máquina que move o poder público. Desabafo pessoal… em tempos de mensalão, a gente bem sabe como é. O interessante aqui é o lado de lá, os bastidores. O Exercício do Poder mostra a rotina, os desafios, as saias justas, o jogo de ego e de interesses dos dirigentes, de uma maneira dinâmica, universal e atemporal.
Olivier Gourmet faz Bertrand Saint Jean (também em A Criança, O Filho, O Garoto da Bicicleta, filmes dos irmãos Dardenne, responsáveis aqui pela produção) e é responsável, em grande parte, por isso. Na pele do ministros dos Transportes, enfrenta o dilema da privatização ou não do sistema ferroviário francês, tendo que contentar sindicatos, operários, empresários, políticos ao mesmo tempo. Atuação maravilhosa. Está na posição ingrata daquele que precisa mergulhar nos trâmites internos do Ministério e apresentar soluções, mas ao mesmo tempo precisa ter diplomacia com seus pares, subordinados e principalmente com o chefe, o primeiro-ministro. Tem sua vida pessoal e familiar seriamente afetadas por suas escolhas e acaba se revelando um sujeito solitário, cheio de problemas pessoais, totalmente escravo dos mandos mais altos da escala de poder. E da ambição.
Em contrapartida, é com seu motorista, um sujeito sem expressão, sem projeção, sem importância, representante dos excluídos, que ele se relaciona, se abre, mostra sua fatia humana sem manipulações. O contraste entre a força e as consequências de uma decisão política e a falta de poder de ação do cidadão comum é provocativa. Embora decente, Saint Jean é seduzido pela possibilidade de sucesso, de reconhecimento. Ceder às pressões, deixar o dito pelo não dito, mudar as regras do jogo no último minuto fazem parte da dança das cadeiras e da luta para perpetuar-se no poder.
Atual e intrigante. Muito dinâmico, diga-se de passagem – você não vai encontrar um filme francês lento e contemplativo. Aliás, vale dizer que levou o César de melhor roteiro original, som e ator coadjuvante (Michel Blanc) e venceu o prêmio da crítica internacional na categoria de Cannes que adoro: Un Certain Regard. Conta tudo que a gente já sabe, imagina, especula e abomina, mas por um prisma diferente.
Nos cinemas: 10 de agosto
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