O GORILA

Cartaz do filme O GORILA

Opinião

O Gorila não é pra qualquer um. Tem que gostar de cinema nacional, de uma pegada autoral e de algo diferente. Já digo isso de cara pra você acerta no programa. Assista ao trailer, veja se te diz alguma coisa. Eu fiquei intrigada, adoro – e sempre destaco – as boas produções brasileiras. Tem muito lixo – como tem em qualquer lugar – mas tem filmes muito bons que merecem seu ingresso.

O Gorila demorou pra entrar em cartaz. Outro filme mais conhecido do diretor, filmado depois, furou a fila e passou na frente – Alemão, feito no Rio, que se encaixa no gênero “filme de favela”. Se Nada Mais Der Certo, de 2008, já vai mais para o lado de O Gorila – autoral, dramático, para pensar. E muito. Tem uma intensidade subliminar, nada óbvia, que é justamente o que vai espantar aqueles que não curtem esse tipo de filme.

Avisados, vamos a ele – que, aliás, deu ao ator Otávio Müller (também em Riscado) e à atriz Alessandra Negrini (também em 2 Coelhos) o prêmio de melhor ator e atriz coadjuvante respectivamente no Festival do Rio em 2012. Müller é Afrânio, um dublador caído e deprimido, que não consegue mais exercer a profissão e encontra uma válvula de escape criando uma outra identidade. Inventa um personagem chamado Gorila, que passa trote em algumas pessoas, estabelece vínculo com elas e constrói sua fama de pervertido. Até que toma uma invertida, pede ajuda para sua vizinha, fica intrigado com um misterioso telefonema e acaba preso na sua própria armadilha.

A trama se desenrola e se enrola bem – as informações são colocadas para  sugerir, para deixar pistas, não para explicar. O diretor deixa subentendido propositalmente, o que me fez entrar no universo confuso, solitário e amedrontado do passado e presente desse inseguro gorila. Termina sem se desenrolar, o que também faz parte do cenário dos dramas pessoais que levam vidas inteiras para se concluir – o que, muitas vezes, não acontece nem de longe. Prêmios mais do que justificados.

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