O SOLTEIRÃO – Solitary Man
Opinião
Não poderia ter melhor escolha do que Michael Douglas como o solteirão do título. Com tudo que já fez no cinema e com a imagem de Gordon Gekko bem fresca na cabeça por causa da sequência de Wall Street, já nas primeiras cenas sabemos que vamos lidar com um sujeito sem escrúpulos, sarcástico e mulherengo, capaz de qualquer coisa para ser o centro das atenções e se dar bem. Não dá para imaginá-lo no papel do bom moço. Embora o perfil seja detestável, o inegável talento de Michael Douglas consegue criar um vínculo com o espectador, prender a atenção e construir a caricatura do sujeito que não queremos encontrar pela frente na vida, mas que está por toda parte.
Eu diria que o solteirão Ben Kalmer é o estereótipo daquele homem ainda charmoso na faixa dos 50, bem sucedido nas finanças, na profissão e na vida pessoal, que de repente se depara com uma dificuldade, sente-se ameaçado e resolve aproveitar a vida – antes que seja tarde demais. Por ‘aproveitar a vida’ entende-se namorar mulheres com a metade da sua idade, gastar dinheiro desmesuradamente, fazer qualquer coisa para ser notado – mesmo que isso signifique negócios escusos e ilegais. Muito interessante a construção do personagem e a maneira segura, transparente e convicta com que Michael Douglas representa. Ben Kalmer não se arrepende de nada, não pede desculpas a ninguém, nem mesmo à ex-mulher, feita pela ótima Susan Sarandon (também em Thelma & Louise e Wall Street – O Dinheiro Nunca Dorme). Saí do cinema com a sensação de que sabia exatamente que tipo de sujeito era aquele.
O Solteirão foi escrito inspirado naqueles homens que se consideram os “reis de Nova York”. No tipo de gente que tem o poder da sedução e da palavra, que faz sucesso até que venha o declínio. Moral e ético, financeiro e emocional, não importa. Quem não tem escrúpulos e chega ao fundo do poço, simplesmente não sabe por onde começar diferente. Ou sabe?
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