ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ – No Country for Old Men
Opinião
Ainda há esperança na fronteira do Texas com o México, mas de fato é onde os fracos não têm vez. Cada vez que a figura do esquisitíssimo Anton Chigurh, matador por natureza e por profissão, (Javier Bardem, também em Mar Adentro, Vicky Cristina Barcelona, Biutiful, Comer, Rezar e Amar) encontra alguém pelo caminho, seu cilindro de ar comprimido entra em ação. É com ele que Anton liquida quem encontra pela frente, suspeitos ou inocentes. O personagem que deu a Bardem o Oscar, Globo de Ouro e Bafta de melhor ator coadjuvante, é implacável e a cara que os diretores Coen queriam dar para a frieza, a violência, a indiferença com a vida. Mas nessa terra da justiça pelas próprias mãos, até os assassinos têm palavra de honra. E Anton dá provas disso.
Ironia dos diretores, claro. Mesmo porque, o personagem de Bardem só tem essa honra e é do tamanho que é porque tem alguém para perseguir – por causa de dinheiro, claro – e alguém que o persegue. O trio, formado também pelo desmotivado soldador e veterano de guerra Llewelyn Moss (Josh Brolin, também em Wall Street, Você Vai Conhecer o Homem dos seus Sonhos, Milk, A Voz da Igualdade, Bravura Indômita) e pelo desiludido xerife Bell (Tommy Lee Jones), constrói o universo da violência física e moral: o soldador se torna um ladrão por acaso, ao pegar para si uma mala com 2 milhões de dólares do meio de um monte de corpos assassinados no deserto; o matador profissional persegue Llewelyn a qualquer custo e preço, para reaver a maleta; o policial persegue o matador, que já deixou um rastro de violência sem precedentes, sem explicação, simplesmente assim.
Quando vejo filmes dos irmãos Coen (Bravura Indômita, Queime Depois de Ler e Um Homem Sério), tenho a impressão de que as relações humanas são expostas de uma maneira nua e crua, sem delongas ou meias palavras. A crueza é cruel mesmo, a inocência é banal mesmo e a desilusão é aquilo que condena o ser humano à mesmice, mas que também o salva da barbárie. Com uma sutil ironia, claro, e com diálogos inteligentes e sutis. Anton é assim: implacável, mas sarcástico ao extremo, a ponto de decidir a vida de alguém no ‘cara ou coroa’. A vida humana fica reduzida a muito pouco e os fracos de espírito… a nada.
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