OURO AMARGO – ORO AMARGO

Cartaz do filme OURO AMARGO – ORO AMARGO

Opinião

Se ouro tem gosto amargo, ganância é uma mina de amargura. Quem dirá Carola, uma jovem que sonha em deixar a vida do garimpo ilegal, morar na praia e voltar a estudar. Mas está rendida, praticamente sem opção. O pai, movido pela esperança de enriquecer, o dia de deixar essa vida nunca chega. O ciclo vicioso do controle, do poder e da ganância não consegue ser quebrado, tão normatizada a violência das relações nesta aridez chilena que não tem fim.

Claro que o cenário do deserto sem fronteiras, linear e cortante, desumano e opressor é também uma maneira de o diretor Juan Olea contar essa história através das imagens. A tomada aérea já deixa os personagens sem saída— encontrar caminhos alternativos no deserto, fora da estrada, é praticamente o mesmo que se perder. São personagens sem opção senão seguir a única vereda aberta: o trabalho ilegal para os homens, a submissão para as mulheres. Carola mora com seu pai, Pacífico, que priva a filha do estudo e convívio com outros jovens pra lhe servir. A ele e a outros homens, cada um trazendo sua violência para amargar ainda mais as relações. Até que a reviravolta acontece pra quebrar o ciclo vicioso e começar outro, que só vai ser elucidado nos instantes finais.

Digo elucidado porque OURO AMARGO ganha ares de suspense. Dos bons. Apresentado no Bonito Cinesur na Mostra Competitiva Sul-Americana, deixa o gosto amargo na metáfora do esforço da personagem pra quebrar o que é aceito como normal pra uma juventude sem escolhas; mas também deixa um gosto saboroso de uma história instigante, com códigos poderosos pra falar de misoginia, relacionamento violento, machismo, desigualdade social, trabalho precarizado, exploração. Códigos na trilha sonora, na escuridão da mina, na imensa solidão do deserto, na construção da Carola, que carrega o filme nas costas, sem esmurecer. A atriz Kataline Sánchez cresce a cada minuto. Não teme mostrar suas nuances, sua complexa relação com o pai, seus medos e desejos, suas contradições. Humana que é, transforma a história árida de disputas masculinas por poder e dinheiro numa busca pela liberdade, regada a pó de ouro.

 

 

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