VIDAS PASSADAS – PAST LIVES

Opinião
Suzana Vidigal _ especial 73ª Berlinale
VIDAS PASSADAS fala de passado, mas não é bem assim. Refere-se a vínculos que são formados entre pessoas que já tiveram alguma ligação anterior. De tão forte e inexplicável, essa ligação do passado transforma o presente. Cada um tem a sua história, mas te convido a pensar se isso faz sentido pra você.
Na tradição sul-coreana, faz. Inclusive tem 8 camadas de conexões, que vão ligando pessoas de forma inexplicável. Quem tem uma história como esta pra chamar de sua, abrace-a. Celine Song contou na Berlinale que inventou a sua — e o fez com muita sensibilidade, humor e inteligência.
Quando a família de Nora migra para o Canadá, ela se despede de um amigo especial da escola. Um adeus silencioso, que só vai acontecer de fato 12 anos depois, quando eles se encontram no Facebook, sentem-se conectados e conseguem, já adultos, despedir-se de fato.
Mais 12 anos se passam depois deste encontro virtual e finalmente se veem em NY. Nora está casada com Arthur (aliás, que personagem!), mas precisa processar seu sentimento por Hae Sung, entender seu momento e o que esta relação representa pra ela. “Não é sobre gênero, raça ou idade; é sobre três seres humanos tentando se conectar”, diz a diretora.
O mais bonito é o espaço que cada um deles abre dentro de si e para o outro, para encontrar este sentimento que pertence a um tempo que já não existe mais; que pertence a pessoas que eles já não são mais. Abrir este espaço possibilita a conexão e o entendimento do que é o amor. Inclusive o amor próprio.
Tocante, envolvente e maduro. Como sempre deveria ser.
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