PECADOS ÍNTIMOS – Little Children

Cartaz do filme PECADOS ÍNTIMOS – Little Children

Opinião

A realidade pacata dos subúrbios ricos, a vida previsível, monótona e, de certa maneira, estável é uma fonte inesgotável de análise do comportamento humano. Em Pecados Íntimos, a impressão que dá é que estamos sendo expostos à traição, culpa, infelicidade e perversão o tempo todo, aplicadas às várias situações da vida cotidiana. Vestimos a carapuça?

Assim como em Foi Apenas um Sonho, Sarah (Kate Winslet, também em O Leitor, Titanic) é casada, mora em uma linda casa no subúrbio, é mãe e visivelmente infeliz. Leva uma vida monótona, cercada de mulheres fofoqueiras preocupadas com a vida alheia, distante do marido, sem maiores objetivos. Ao lado dela está Brad (Patrick Wilson), casado com a bela Kathy (Jennifer Connelly), que cuida do filho enquanto a mulher trabalha e parece também não almejar grandes saltos. Logo de cara a gente prevê o inevitável.

O intrigante do filme não é o que acontece entre os dois, nem como se dá esse relacionamento – embora, é claro, tenham momentos interessantes de aproximação e de preenchimento desse vazio. O que dá o tom é a hipocrisia e o questionamento do comportamento humano através de duas histórias paralelas nesse microcosmo da cidadezinha perfeita. Um maluco pedófilo tem a ficha suja na polícia e perturba a vida idealizada das mães e das crianças; um policial afastado por má conduta preenche seu tempo perturbando esse primeiro pervertido, como se pudesse assim livrar-se da sua própria culpa.

Toda essa situação cria um suspense interessante e emocional. Incomoda sentir a dependência de cada um dos personagens com a loucura ou falta de sensatez do outro, sem que isso os leve a parar para pensar em si mesmos. O narrador conta a história vista de fora e nos induz a pensar nos “pecados íntimos” como algo além da infidelidade do casal, algo que transcenda a traição matrimonial e entre na seara da traição a si próprio, da busca desenfreada pela razão de viver no outro. O final não finaliza nada, deixa dúvida no ar propositalmente, mas me trouxe a sensação de que o louco assumido era o mais sensato dos personagens. Pelo menos ele foi coerente. O filme se baseia no livro homônimo, em inglês Little Children (traduzido como Criancinhas). Achei isso curioso – de um lado essa tradução ironiza a postura infantilizada e mimada dos adultos superprotegidos e indecisos; de outro, a tradução do filme remete ao adulto infiel. Mas Todd Field e Tom Perrotta, diretor e roteirista respectivamente, são sábios ao deixar essa questão em aberto. Cabe a você decidir.

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