PEGANDO A ESTRADA – Hit the Road
Opinião
Panah Panahi é filho de Jafar Panahi e mostra a que veio já no seu primeiro longa metragem. PEGANDO A ESTRADAé um road movie, que muito lembra o movimento de Jafar de dar tempo ao tempo, ao espectador e ao personagem, pra absorver a narrativa. Alias, ver essa família estranha dentro do carro, indo pra algum lugar isolado nas montanhas, pra uma missão que vai se revelando à medida que avançam na estrada em direção à fronteira coma Turquia, lembra o que Panahi pai faz em seus filmes, quando ficamos presos com os personagens por intermináveis horas dentro de carros, táxis, casas. Tem a ideia de se sentir sufocado, atado, cerceado plantada aqui também – claro, Jafar há anos está em prisão domiciliar, proibido de filmar e sair do país.
Além do afeto que une essa família de pai, mãe e dois filhos, o que os junta é esse objetivo maior neste filme exibido na Quinzena de Realizadores do Festival de Cannes. O filho mais velho, que dirige o carro, precisa fugir. A família vendeu tudo, carro, casa, pra montar um esquema pra tirá-lo do Irã. A viagem é percorrida pelos quatro, mais um cachorro, e o diretor nos convida a participar das conversas e reflexões.
Dá pra sentir a ansiedade, a agitação do garoto mais novo que não sossega um só minuto e rouba a cena em diversas ocasiões – inclusive quando toca piano no gesso da perna do pai. A liderança da mãe, que embora angustiada e na posição de mãe protetora, é quem determina que a viagem aconteça. A impaciência do irmão mais velho, que é o motivo do deslocamento dos quatro, que mais parecem sem lenço nem documento; mais parecem querer desaparecer.
A cena mais bela do filme consagra a direção de Panah Panahi e a fotografia. A tomada em que vemos lá de longe, em que a silhueta dos personagens vai sinalizando as providências, lideradas pela mãe resiliente e determinada, é belíssima. Uma poesia só.
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