REFLEXÕES DE UM LIQUIDIFICADOR

Cartaz do filme REFLEXÕES DE UM LIQUIDIFICADOR

Opinião

À medida em que avançavam as confissões e reflexões daquele antigo liquidificador, mais eu me lembrava do ótimo filme, também brasileiro, É Proibido Fumar. As semelhanças, deixo suspensas para não estragar a surpresa. Mas posso dizer que a maneira divertida, inteligente e dissimulada com que ambos lidam com o humor negro e com o absurdo é realmente o que faz a diferença.

A começar pelo título e pelas imagens de Elvira, dona de casa que empalha animais nas horas vagas, carregando um liquidificador. Precisa ser muito bom para colocar um liquidificador falante e palpitador num longa, sem parecer piegas, brega ou, para dizer o mínimo, infantil. Aqui não tem nada disso. O eletrodoméstico ganha vida pela voz de nada menos que Selton Mello – portanto, imagine seu tom de voz, sua ironia, seu tom de camaradagem ao se tornar o confidente e melhor amigo de Elvira. Muito bem construído, o “personagem” – se é que podemos chamá-lo assim. Além de ser fundamental para a trama. Você saberá por quê. Mas o que o liquidificador e a dona de casa vivem é uma fase diferente de suas vidas, que vai mudar absolutamente tudo. O marido de Elvira sai um dia e não volta – estilo foi-comprar-cigarro-e-desapareceu. Ela faz o boletim de ocorrência, comunica o sumiço do marido e a polícia começa a investigação. Aí ficamos sabendo dos meandros da história, da vida da vizinha, do carteiro, do marido e do liquidificador – que também tem muito o que contar.

Fica a dica. Mas acho esse tipo de filme, descompromissado, que trabalha o humor de uma maneira despretensiosa, que lida com questões e sentimentos do dia a dia de uma maneira muito simples, uma maravilha. Dá leveza ao gênero, diverte e mostra como é difícil trabalhar temas aparentemente rasos de uma maneira delicada e subliminar. Aliás, a gente até se identifica com algumas questões. Ah, se as paredes falassem…

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